A Praça de Armas, na Frente de Terra de Ceuta
Após a conquista da cidade de Ceuta, Portugal introduz na sua estrutura urbana importantes modificações com o objectivo de a adaptar à nova realidade criada e assegurar a sua gestão e controlo efectivos.
De facto, a dimensão de Ceuta em termos de área e população à data da conquista, cujo número de habitantes estimado por Gozalbes Cravioto era de cerca de 30.000 (GOZALBES CRAVIOTO, 1989, p. 779), era insustentável para a guarnição de 2.500 homens que ficaram a cargo do Governador D. Pedro de Menezes. Ceuta fora esvaziada dos seus moradores, conforme refere Zurara na crónica da sua conquista, afirmando que “já passavam de sete horas e meia depois do meio-dia, quando a cidade foi de todo livre dos mouros” (ZURARA, [1450] 1915, p. 234). Para além disso, o bloqueio terrestre que lhe foi imposto obrigaria ao seu abastecimento a partir da metrópole.
“Ceuta tornou-se pouco mais do que uma grande e vazia cidade-fortaleza varrida pelo vento, com uma dispendiosa guarnição portuguesa que tinha que ser abastecida continuamente através do mar”. (LOPES, [1937] 1989, obra citada)
O Jebel Mussa ou A Mulher Morta
Ceuta situa-se num local mítico, envolto em lendas que remontam aos tempos da antiguidade clássica.
O Monte Abyla, actual Monte Hacho, ou, de acordo com outra versão, o Jebel Mussa, o Monte da Mulher Morta, seriam o local onde se localizava uma das colunas de Hércules, a do lado Africano, sendo a do lado Europeu situada no Rochedo de Gibraltar. Segundo a mitologia grega, Hercules, para realizar um dos seus doze trabalhos, terá afastado os dois montes para criar uma passagem marítima.
“A Mulher Morta, contemplada desde o Hacho, parece um elefante que estava a passar por entre as montanhas. Segundo Estrabão, esse perfil que denomina o Elephas anunciava-lhes a proximidade do fim do Mare Nostrum.” (BARCELÓ, 2015, obra citada)
Seria também aqui, na base do Jebel Mussa, que Ulisses esteve prisioneiro de Calipso durante sete anos. As referências míticas a Ceuta encontram-se também inscritas nos mapas mais antigos, como refere Gomez Barceló:
“Nestes mapas Ceuta aparece como Abyla que era o nome dado à coluna de Hércules deste lado do Estreito de Gibraltar, Septem Frates ou sete irmãos, que aludia aos sete montes sobre os quais assentou Ceuta, e também Hepta Adelphoi, que era a tradução grega deste último topónimo. Assim se encontra também escrito em diferentes histórias da antiguidade.” (BARCELÓ, 2015, obra citada)
Vista de Ceuta a partir da Serra da Ximeira
A cidade que os portugueses conquistam era assim uma das grandes cidades do Norte de Africa, estrategicamente situada, e um importante centro de comércio. A opulência das suas construções eram prova disso, não só em termos de estruturas defensivas e edifícios públicos, mas também ao nível das suas habitações.
No entanto Ceuta era dependente dos abastecimentos do exterior, já que as características dos terrenos circundantes não permitiam o cultivo e a criação de gado suficientes para alimentar toda a sua população. O abastecimento de água constituía também um problema para a cidade, que apesar disso nunca lhe faltou, como refere Gozalbes Cravioto:
“Esta grande população, necessitava de grandes quantidades de água, impossíveis de abastecer pelas escassas e intermitentes nascentes que afloram do subsolo ceuti (…) Mas, ao contrário de outros núcleos urbanos, a água não condicionou a sua existência (…) Os ceutis, souberam obter, conservar e utilizar a água e se tornaram hábeis mestres no assunto”. (GOZALBES CRAVIOTO, 1989, p. 779-780)
Para tal, não só contavam com as 25 fontes públicas existentes e os inúmeros poços, como desenvolveram um complexo sistema de captação, transporte e recolha, utilizando galerias subterrâneas, aquedutos e condutas, que alimentavam depósitos, cisternas e tanques.
Bairros e Arrabaldes da Ceuta Medieval. Fonte Carlos Gozalbes Cravioto (GOZALBES CRAVIOTO, 1998, p. 402)
A estrutura da cidade pré-portuguesa baseava-se num núcleo central, situado na zona mais estreita do istmo, a Medina, que correspondia ao assentamento romano do século IV, de características industriais, vocacionado para a salga de pescado.
O aumento demográfico tem como consequência a criação de vários arrabaldes, seccionados transversalmente por muralhas e fossos, sendo que as frentes de mar foram também fortificadas, mas de forma menos construída, já que se tirou partido das características topográficas do terreno. Esse aumento demográfico foi particularmente forte durante o século XIV, devido à chegada de muitos expulsos da Península.
“Um estudo cronológico destes arrabaldes, sobretudo com base nos seus cemitérios, permite determinar as etapas de crescimento da cidade, cujo maior desenvolvimento demográfico se alcança no século XIV, e não nos séculos anteriores, como parecem indicar a maioria das fontes escritas. Estas fontes, quase sempre fazem referência ao esplendor cultural e é certa esta decadência cultural da cidade no século XIV, tal como no resto do Al-Andalus. Também decresce a importância política da cidade, mas cremos que é quando a sua demografia aumenta consideravelmente.” (GOZALBES CRAVIOTO, 1998, p. 401)
O Monte Abila, actual Monte Hacho
O próprio Monte Abila seria parcialmente muralhado, concretamente de forma contínua no seu lado Norte, onde a topografia do terreno não é suficientemente desnivelada em relação ao mar para garantir por si só as necessárias condições de defesa de forma eficaz. Já dos lados Nascente e Sul apenas teriam sido construídos troços isolados de muralha nas praias e nas entradas dos vales.
No Monte não existia um povoamento com características urbanas, mas tão-somente alguns edifícios isolados, se bem que de grande importância _ uma fortaleza no seu cume, a “casa da Luz” ou farol, a Musalla, local de retiro e de culto ocasional e o Morabito de Sidi Bel Abbes Es-Sebti, estes dois últimos já fora de portas.
Video promocional da exposição al-Mansura. Supervisão de Fernando Villada Paredes
Uma outra estrutura fortificada da cidade de Ceuta era o Afrag, também denominado Al-Mansura, a vitoriosa ou Al-Jazira, a ilha, nome pelo qual a conheciam os portugueses.
“Al-Afrag, termo amazigh aplicado primitivamente a toda a cerca destinada a agrupar e proteger o gado, passou provavelmente na época almorávida a designar o acampamento militar itinerante do chefe de guerra ou do soberano. A intensa actividade bélica dos califas almóadas imposta pela sua política expansionista levou-os a darem uma importância crescente ao Afrag: por conseguinte era uma verdadeira cidade itinerante e efémera em que o espaço estava rigorosamente organizado, não só procurando uma eficácia militar óptima, como também para realçar a presença do soberano e o seu papel aglutinador e protector.” (CRESSIER, Patrice, in VILLADA PAREDES, Fernando e GURRIARÁN DAZA, Pedro, 2013, p. 17)
O Afrag de Ceuta, construído pelos Merinidas no século XIV, foi um local de concentração de forças militares com o objectivo de controlar Ceuta e o próprio Estreito de Gibraltar. Situava-se num estratégico local do acesso à cidade, ocupava uma área de cerca de 15 hectares, e “incluía palácio, mesquita, e outras instituições oficiais e infraestruturas colectivas.” (CRESSIER, Patrice, in VILLADA PAREDES, Fernando e GURRIARÁN DAZA, Pedro, 2013, p. 18)
Gravura de Ceuta no séc. XVI da obra Civitates Orbis Terrarum de Braun e Hogenberg, 1572
Após a conquista de Ceuta pelos portugueses em 1415, a cidade sofreu alterações radicais na sua estrutura. A expulsão dos habitantes do seu interior, reduzindo-se a sua população dos cerca de 30.000 almas para uma guarnição militar de 2.500 homens, obrigou à redução da sua área, através de um processo que os portugueses repetiriam invariavelmente nas Praças de Marrocos _ a construção de atalhos, muralhas interiores ao perímetro muralhado, com a demolição e das construções situadas do lado de fora.
No caso de Ceuta, a existência de uma muralha cercando a Medina e separando-a dos diversos arrabaldes, consumou o atalhamento natural da cidade portuguesa sem recurso a obras. Os portugueses instalam-se na Medina e arrasam os arrabaldes, que progressivamente vão transformando em campos de cultivo e pomares. A Medina adaptava-se perfeitamente às necessidades dos novos ocupantes, com os seus cerca de 11 hectares de área e uma população estimada em 3.600 habitantes, para além de fortemente muralhada.
“Em nenhum documento coevo consultado nos aparece a denominação “atalho” para esta operação em Ceuta, mas implicitamente se deduz o seu processo. Tratou-se de um equilíbrio racional e pragmático de resolução de uma equação entre espaço e meios disponíveis.” (CORREIA, 2008, p. 95)
Na gravura de Braun e Hogenberg surge uma imagem da Ceuta do século XVI com as suas muralhas representadas de forma esclarecedora. A Medina bem fortificada com o seu Castelo e a sua Couraça em perfeitas condições de conservação, os arrabaldes despovoados, abandonados, com as suas muralhas parcialmente derrubadas.
A Igreja de Santa Maria de Africa
O recinto muralhado ocupado pelos portugueses é estruturado a partir de um eixo longitudinal constituído pela Rua Direita ou da Misericórdia.
A mesquita principal é adaptada a catedral, sob invocação de Nossa Senhora da Assunção, sendo outras mesquitas também convertidas, concretamente para as igrejas de S. Tiago, S. Miguel e S. Jorge. É construída de raiz a Igreja de Nossa Senhora de Africa, fundados os Conventos de S. Tiago e S. Jorge, e o Hospital da Misericórdia. Mais tarde, no Hacho, seria construída a Ermida de Santo António.
A Couraça da banda de Tetuão na Praia da Ribeira
A situação de dependência do exterior em termos de logística agrava-se após a conquista portuguesa, apesar da redução drástica da população e da criação de algumas zonas de cultivo, diga-se que de pequena dimensão, nos antigos arrabaldes. De facto, o bloqueio terrestre imposto pelo reino de Fez isola completamente a cidade, desviando-se também as cáfilas para outros portos, o que a aniquila em termos comerciais.
A importância de se assegurar o abastecimento por mar obriga ao reforço da couraça existente e construção de uma segunda couraça. Sobre as couraças refere Gozalbes Cravioto:
“A palavra couraça significa, em termos gerais, uma muralha perpendicular ao muro de uma fortificação, realizada para proteger o abastecimento. Deriva do árabe qawraya, que sabemos se empregava pelo menos desde o século XIII (…) As couraças, como assinala Huici Miranda, protegiam um caminho até um poço ou, como nos diz Robert Ricard, a um rio ou inclusivamente ao mar.” (GOZALBES CRAVIOTO, 1980, p. 365)
As couraças seriam um elemento constante e marcante das fortificações portuguesas em Marrocos, garantindo não só que as manobras de abastecimento se realizassem em segurança, como o próprio controlo da praia enquanto território vital à sua sobrevivência.
Planta de Ceuta de 1691 . Arquivo General de Simancas
No ano de 1511 Francisco Danzilho chega a Ceuta com a missão de reforçar as defesas da cidade, concretamente o pano Nascente, o Castelo e as Couraças. “O que se conhece dessas obras foi medido por mestre Boytac e Bastião Luiz a partir de 28 de Junho de 1514 e durante os dias seguintes.” (CORREIA, 2008, p. 112)
Segundo Jorge Correia, “a intervenção no lado oriental das fortificações conclui em definitivo o processo iniciado, havia quase um século, do atalho nascente da cidade” (CORREIA, 2008, p. 112). Tratou-se de reforçar esse pano de muralha e modernizar o Baluarte da Porta da Almina, que protegia ponte de acesso sobre o Fosso Seco.
Os estudos de Gozalbes Cravioto esclarecem que Danzilho construíu uma nova couraça na costa Norte, protegendo a Porta do Campo, junto às Taracenas, local de construção e reparação naval. Foi denominada Couraça do Estreito ou Couraça Nova. Esta couraça seria demolida durantes as obras realizadas em meados do século XVI, sendo substituída pelo Espigão do Albacar.
A Couraça da Banda de Tetuão
Danzilho reconstruiu a velha couraça que protegia a Praia da Ribeira, no chamado Mar de Barbaçote, denominada Couraça de Barbaçote, Couraça da Banda de Tetuão, Couraça de Ruy Mendes ou Couraça de Santa Maria, e que ainda seria posteriormente designada como Couraça Velha, da Berbéria ou de Santa Ana. Esta couraça fora edificada antes da tomada da cidade pelos portugueses, entre 1331 e 1351, denominando-se Castelo da Água, conforme refere um texto de Ibn Marzuk citado por Gozalbes Cravioto:
“O Castelo da água (Burj Al-Ma’) que edificou mar adentro (o sultão Abu l-Hasan), no meio das ondas, no Mar de Bassul, no litoral de Ceuta. Eu assisti à sua construção. Toda a gente concordava que era impossível edificá-lo ali. Transportaram-se rochas do tamanho de penhascos e pedras que era impossível mover sem cálculos (handasa) e medições e sem a ajuda de roldanas (‘ayal): sobre elas foram deitadas outras iguais, até que se formou uma ilhota no meio do mar e sobre ele fez-se levantar o imponente castelo que ali é tão famoso. Ordenou logo (o sultão Abu l-Hasan) fazer-se uma ponte que ia desde a costa até este castelo, pela qual podiam circular os animais e comunicava com a terra firme.” (GOZALBES CRAVIOTO, 1980, p. 371-372)
Este castelo é a famosa Torre de Hercules referenciada nos textos portugueses.
Ceuta portuguesa na segunda metade do século XVI . Fonte Jorge Correia
Na primeira metade do século XVI são realizadas algumas obras de reforço das defesas de Ceuta, que “reflectiam já um desajuste face à importância do sítio” (CORREIA, 2008, p. 115). Não era estranha a esta situação o incremento da actividade dos corsários turcos, nomeadamente de Khayr Ad-Din Barbarossa e seu irmão Bábá Arudj, e o efeito psicológico que o desastre da Mamora teve nos portugueses. (CORREIA, 2008, p. 115)
Nomes como os de Rodrigo Redondo, Duarte Coelho, João de Castilho e Diogo de Arruda são referenciados como tendo trabalho em Ceuta nesse período.
Mas o estado de degradação das muralhas e o seu desajuste em relação aos avanços das técnicas da pirobalística exigiram uma intervenção de fundo que seria protagonizada por Miguel de Arruda e Benedetto da Ravena a partir de 1541. De facto, o problema das fortificações de Ceuta não era uma questão de conservação das estruturas existentes, mas sim da sua reformulação e adaptação aos tempos que corriam, marcados por ameaças tecnologicamente mais evoluídas.
O Fosso Navegável e, em primeiro plano, o Baluarte de Santo António
A intervenção de Miguel de Arruda e Benedetto da Ravena incidiu sobretudo na chamada Frente de Terra, que foi totalmente reformulada, tendo também intervindo no lado da Almina e nas Portas da Cidade. Era do lado Poente que os maiores perigos espreitavam e era ali que o grande esforço para a sua defesa se deveria concentrar. A obra projectada por Benedetto e coordenada por Arruda, baseada no modelo italiano, criou uma barreira inexpugnável à entrada na cidade, cujos princípios seriam também por si postos em prática de forma irrepreensível na construção da Cidadela de Mazagão.
Planta de Ceuta no século XVIII. Arquivo General de Simancas
Jorge Correia sintetiza deste modo os principais pontos da memória descritiva do projecto:
“Dois baluartes em cunha nos ângulos norte e sul da frente amuralhada poente com dois andares abobadados no interior, possuindo aberturas para bombardeiras de tiro rasante sobre ambos os flancos da muralha (…) muralha ocidental, entre os dois baluartes, construída a partir da unificação das duas frentes fortificadas preexistentes, barbacã (exterior) e muro (interior) (…) reforçando a muralha poente, pelo exterior, a cava nivelar-se-ia pela maior profundidade, permitindo a comunicação dos dois mares (…) idêntico sistema construtivo aplicado na muralha nascente, para a Almina (…) três portas em três lados do rectângulo (…) demolição e arrasamento de cortinas de muralha – couraças – ou casas que se situavam para além do novo perímetro da cidade, ângulo Noroeste”. (CORREIA, 2008, p. 119)
O Baluarte de Santo António e o Fosso Navegável
A chamada Muralha Real, construída ao longo do Fosso Navegável, unindo os Baluartes de Santo António e S. Sebastião, baluartes de orelhões em forma de cunha, é um impressionante pano inclinado de alvenaria de pedra com 170 metros de comprimento por 20 metros de altura e 11 metros de espessura, munido de canhoneiras no seu topo. As canhoneiras são construídas em tijolo, material que absorvia melhor os impactos dos projecteis do que a pedra, evitando o seu ressalto, e não lascavam, situação que provocava muitos feridos entre os defensores.
A implantação e forma dos baluartes foram concebidas para garantir a cobertura dos principais ângulos de tiro, não só para um ataque frontal, como para a defesa da Porta do Albacar, a Norte, e da Couraça, a Sul.
Para a construção foram recrutados pedreiros na comarca de Évora e a obra foi levada a cabo entre 1541 e 1549. “Os carregamentos de cal foram ditando a agenda do estaleiro” (CORREIA, 2008, p. 121). Finalmente em 1549 o fosso foi inundado e a obra da frente Poente dada como terminada.
A intervenção prevista para a Almina só avançaria no entanto a partir de 1553.
O Baluarte de S. Sebastião
O ano de 1549 marca também a data da decisão de D. João III em arrasar o Afrag, também denominado Al-Jazira ou Al-Mansura, que até ali constituíra sempre um problema de difícil resolução, ora sendo ocupado pelos portugueses como atalaia da cidade, ora servindo as forças do Reino de Fez como posto avançado para ataques e emboscadas.
Nos primeiros tempos da ocupação portuguesa, as muralhas do Afrag continuaram a acolher alguns antigos habitantes de Ceuta, que se dedicavam a fazer ataques aos portugueses quando estes saíam fora de portas. Os terrenos situados entre o Afrag e as muralhas da cidade eram ocupados por pomares e hortas, muito propícios a essas emboscadas, o que levou à sua destruição com o objectivo de melhor os controlar.
Com o tempo, o perímetro de protecção a Ceuta é alargado, criando-se uma rede de atalaias para observação do campo exterior, coordenada com a actividade de uma força de intervenção rápida para correrias ou razias, roubos de gado, ataques às aldeias mais próximas e acções de contraguerrilha _ os almogávares.
As muralhas do Afrag
Em determinados momentos os portugueses controlam a cidadela, conforme referem Villada Paredes e Gurriarán Daza:
“A posse do Afrag passou para as mãos dos portugueses à medida que estes foram controlando um território cada vez mais amplo ao redor de Ceuta. Assim, conservamos um documento de 1453 no qual o rei outorga ao conde de Barcelos “os nossos paços que são na vila d’Aljazira que está a par da nossa cidade de Ceuta com todas suas entradas e saídas e direitos e pertences.” (VILLADA PAREDES, Fernando e GURRIARÁN DAZA, Pedro, 2013, p. 32)
Mas o Afrag, com as suas muralhas e edifícios abandonados, continua a ser um foco de insegurança e ponto de partida para ataques, já que facilmente servia de refúgio aos guerrilheiros ao serviço do Rei de Fez. Com a sua área de 15 hectares, seria impensável equacionar a sua ocupação, sendo então tomada a opção da demolição.
“Novamente mudou a conjuntura e a pressão dos muçulmanos sobre Ceuta desde finais da centúria de quatrocentos fez de Al-Mansura outra vez um perigo para a segurança da cidade. Isto motivou em 1549 que o Rei D. João III desse a ordem de derrubar a Al-Jazira para evitar esse constrangimento. As obras começaram no ano seguinte mas avançaram lentamente devido à falta de homens”. (GOZALBES CRAVIOTO, 1978, p. 57)
No final apenas foi demolido um pequeno tramo do lado Nordeste.
A Frente Valenciana, segunda linha de defesa
Durante o período dos Filipes, Ceuta, à semelhança de Tânger e Mazagão, mantém-se sob administração portuguesa, mas após a restauração de 1640, não aclama o Duque de Bragança como rei de Portugal. A soberania espanhola sobre a cidade seria reconhecida em 1668 com a assinatura do Tratado de Lisboa.
O final do século XVII e início do século XVIII são particularmente atribulados, com dois cercos do sultão Mulay Ismail, em 1694 e 1724, e a tentativa inglesa de conquista de cidade em 1704, ano da tomada de Gibraltar pelos britânicos.
A violência dos bombardeamentos do sultão Alauíta levam os espanhóis a reforçarem a Frente de Terra, construindo uma segunda e uma terceira linhas de defesa em estilo Vauban, a Poente do Fosso Navegável. Entre elas ficaria a actual Praça de Armas.
A Frente Valenciana, na Praça d’Armas
A segunda linha, designada Frente Valenciana, que se desenvolve entre o Fosso e a Praça de Armas, é constituída por uma cortina de muralha e dois meios baluartes, o de S. Pedro e o de Santa Ana. A Poente da Praça de Armas foi edificada a terceira linha, constituída pelos Revelins de São Paulo e Santo Inácio e pela Contraguarda de S. Francisco Xavier.
De Portugal ficou em Ceuta este valioso Património e muitas histórias por contar, sobretudo aos portugueses, de cuja História são em geral tão pouco conhecedores.
Em 1990, visitei Ceuta, sem qualquer guia. Andei pela cidade, à deriva e, com o meu amor à História de Portugal e à História em geral, descobri, penso, o que Ceuta nessa época, tinha de melhor: o seu património como a fortaleza e a Igreja de Santa Maria de África. Quando entrei na Igreja havia uma jovem, técnica de restauro, que se dedicava a restaurar o altar principal onde se encontrava a imagem de Nossa Senhora de África, nome que ela lhe deu e que se pensava que teria sido levada pelos portugueses. Este meu testemunho não acrescenta nada ao seu trabalho de pesquisa, mas gostei tanto de ler o que escreveu, que não resisti a deixar estas minhas pequenas impressões. Apenas quero acrescentar que a minha pesquisa sobre Ceuta, por este meio, resultou de uma “visita de saudade” às fotografias que tirei nessa cidade que pertenceu aos portugueses, numa das minhas viagens mais antigas. Obrigada pelo seu trabalho.
Boa tarde. É fascinante ver o legado português no Mundo, e especialmente aquele que pertence aos primórdios dos Descobrimentos, quando o Mundo era desconhecido. Obrigado pelo seu comentário
Frederico Mendes Paula
Apenas quero acrescentar e agradecer, a possibilidade que me proporcionou de poder identificar melhor as fotografias que tirei, especialmente das várias perspectivas da muralha. Obrigada, mais uma vez.
Não tem de quê. Eu é que agradeço
Com todo o interesse agradecia informações,obrigado.
Ainda não teve tempo de verificar o tema NOSA SEÑORA DO VALE????obrigado
Caro Manuel Pinho
De facto não me deparei com informações concretas (para além daquelas que apresentou no seu comentário ao meu artigo “A Conquista de Ceuta”) sobre N. Sra. do Vale. Chamo a atenção para o facto de, no âmbito do próximo Congresso Ceuta 2015 (http://www.coec2015.org/pt/inicio-2/) estar prevista no dia 1 de Outubro uma visita a essa Igreja às 20.00 horas, na qual serão certamente esclarecidos muitos aspectos sobre a história do imóvel.
Cumprimentos
Querido Frederico
La Virgen del Valle ha sido recientemente restaurada por D. Álvaro Domínguez Bernal. El Archivo Central de Ceuta ha editado la memoria de esta intervención realizada por Álvaro, con información de gran interés.
Enhorabuena por la entrada de este estupendo blog.
Un abrazo
Caro Fernando
Obrigado pela tua informação.
Como poderei obter essa memória?
Um abraço
Muito bem!
Obrigado
Pingback: A Conquista de Ceuta | Siroco Tours
Estupendo trabajo. Enhorabuena Un cordial saludo Carlos Gozalbes Cravioto
Date: Tue, 12 May 2015 21:07:34 +0000 To: cagozalbes@hotmail.com
Caro amigo. É um privilégio merecer um comentário tão animador de um tão ilustre estudioso de Ceuta. Um abraço