Vista tirada do Forte da Arrifana. Ao fundo, a Ponta da Atalaia, local do Ribat de Ibn Qasi
“Eu quero ser nada…para poder compreender tudo”
Shaykh Hisham Kabbani
A derrota dos Almorávidas na batalha de Ourique marca o início de um novo período de fraccionamento do Al-Andalus em reinos independentes, que ficou conhecido como os segundos Reinos de Taifas. É um período conturbado e de digladiação entre várias facções muçulmanas e destas com os cristãos, já que Almorávidas em declínio, Reinos de Taifas que logram a independência e os recém-chegados Almóadas detêm o poder em diferentes áreas da região.
Durante este período forma-se o Reino da Taifa de Silves, inicialmente governada pela família dos Banu Al-Mallah, mas posteriormente dominada por aquele ficou na história como o grande Mestre do Sufismo no Gharb Al-Andalus, Abu Al-Qasim Ibn Qasi.
Se o período das primeiras taifas constituiu o expoente da poesia Luso-Árabe, representada por figuras como Al-Mu’tamid e Ibn ‘Amar, as segundas taifas ficaram como o expoente da filosofia Misticista Islâmica, representada por Ibn Qasi e o movimento Muridino.
O Sufismo é a via espiritual e mística do Islão, também chamada de Islão do coração ou Islão do amor, dado que os Sufis não se regem pela sua mente, mas pelos seus sentimentos. É Islão da tolerância, da inteligência e da busca do conhecimento. Para os Sufis toda a realidade comporta um aspecto exterior aparente e um aspecto interior escondido, ou seja gnóstico ou esotérico.
As origens do Sufismo remontam ao tempo do próprio profeta Muhammad, podendo advir dessa altura a própria designação Sufi, do Árabe Ahl as-Suffa ou a gente do sofá, expressão que resulta do facto de que os seguidores do Profeta se sentavam com ele num sofá na sua casa em Medina. Outras possibilidades são ter origem na palavra Assafaa (pureza) ou as-Suf (a lã), já que os primeiros sufis se vestiam com lã.
Este entendimento de que o Profeta foi o primeiro Sufi tem por base a forma esotérica e mística de como o Corão lhe foi revelado e posteriormente transmitido, e o carácter de confraria existente entre ele e os seus mais próximos, nomeadamente com a sua filha Fátima e seu genro Ali Ibn Abu Talib.
Os sufis relacionam-se com Deus de forma directa e procuram o conhecimento no seu amor divino. Deus vive dentro de si.
“Perguntei _ Deus quem és tu? Respondeu-me _ Tu” (ALVES, 2001, obra citada)
Os Sufis buscam incessantemente o conhecimento e a sabedoria através da meditação, de práticas iniciáticas e da transmissão do conhecimento no seio de confrarias dirigidas por um Mestre ou Shaykh. Essas práticas assentam não só no isolamento e solidão, como no êxtase e embriaguez da alma, como é exemplo a conhecida dança dos Derviches, confraria fundada por Mevlana Jalal Ad-Din Rumi no século XIII na Pérsia. Em Persa Derviche significa mendigo, termo que faz referência ao despojar das riquezas que o Sufismo preconiza. Acreditam que para isso o indivíduo deve despojar-se de todos os bens, mais do que de bens materiais, de ideias pré-concebidas, para poder viver em humildade.
Um dos grandes Mestres Sufis foi Ibn Arabi, nascido em Múrcia no século XII, grande impulsionador do Sufismo no Al-Andalus.
“Quando tu te conheces, o teu ego ilusório desaparece e tu não és outro senão Deus”… (ALVES, 2011, obra citada)
A doutrina Sufi assenta no princípio de que existe uma verdade escondida e inatingível, ou seja, que a busca pelo conhecimento e perfeição é realizada com a noção de que o conhecimento e perfeição nunca serão atingidos. O Sufismo nega a bi-polaridade e antagonismo dos conceitos e defende a existência da relatividade e da complementaridade _ sem morte não há vida, sem ódio não há amor. A própria interpretação dos conceitos Corânicos recusa a interpretação imediatista do Corão, por exemplo, defendendo que a guerra santa ou Jihad é sobretudo uma guerra interior que os indivíduos travam contra si próprios no sentido de se aperfeiçoarem.
Ruínas de uma das mesquitas do Ribat de Ibn Qasi
Natural de Silves, Ibn Qasi era provavelmente um muladi, ou descendente de cristãos convertidos, de origem romana, dado que o seu nome de família viria do romano Cassius. Funcionário da alfândega de Silves, opta por uma vida de meditação e recolhimento, entregando metade dos seus bens aos pobres e construindo com a restante parte uma Zauia ou Ribat onde se refugia e inicia um caminho na busca de Deus. Nesse Ribat, localizado na Ponta da Atalaia, Arrifana, junto a Aljezur, viria a nascer uma confraria designada por Movimento Muridino, organização religiosa e de Cavalaria Espiritual Islâmica, regida por princípios de defesa dos fracos e dos necessitados.
As zauias e os ribats, termos que estão na origem dos topónimos azóia e arrábida, são edifícios religiosos ligados aos sufis ou misticistas islâmicos. As zauias tinham muitas vezes a sua origem num túmulo de um santo e congregavam funções de retiro e meditação, escola Corânica e também de acolhimento a necessitados. Os ribat, que normalmente se situavam nas zonas de fronteira ou junto a vias de comunicação importantes, aliavam a essa função a de sedes da cavalaria espiritual islâmica, ou futuwah, e de abrigo para soldados envolvidos em acções de islamização.
Os Muridinos tornaram-se na força dominante da região, e acabaram por conquistar o governo da Taifa de Silves, de todo o Algarve e baixo Alentejo, por volta do ano 1144, combatendo para isso a família dos Banu Al-Mallah e os Almorávidas.
Ruínas do Ribat da Arrifana na Ponta da Atalaia
Apesar de ter tido algum apoio dos Almóadas na sua guerra contra os Almorávidas, o poder de Ibn Qasi constitui um entrave á unificação política do Gharb Al-Andalus por esta facção Berbere e um desafio ao Islamismo ortodoxo e fanático profetizado por Ibn Tumart e Abdel-Mumen.
Ibn Qasi sela um pacto com Ibn Arrik, Afonso Henriques, cujas ligações aos ideais da cavalaria espiritual são por demais conhecidos, concretamente aos Templários, que constituíam a principal força de ocupação dos territórios da “frente”. Esta aliança, a primeira estabelecida na Península entre Muçulmanos e Cristãos, gnósticos, irmanados pelos mesmos ideais de tolerância, lealdade e fraternidade, foi simbolicamente selada por Afonso Henriques oferecendo a Ibn Qasi um cavalo, um escudo e uma lança.
Ibn Qasi seria assassinado pelos Almóadas no ano de 1151. O movimento Muridino ainda manteve uma praça na sua posse durante alguns anos, Tavira, governada por Ali Ibn Al-Wahibi, atacada pelos Almóadas dia e noite a partir de Cacela, a qual só foi conquistada quando o próprio Abdel Mumen comanda em 1167 uma força vinda de Marrocos.
Sobre esta aliança escreveu Garcia Domingues _ “Desta forma se vê, que a alma destes últimos muçulmanos se dividia já entre os deveres de uma fé confusa e discutida, embora ainda cheia de energias e o sentimento de uma solidariedade peninsular que se iria afirmando.” (DOMINGUES, [1945] 2010, p. 219)
Sobre a importância do pacto entre Ibn Qasi e Ibn Arrik escreveria Adalberto Alves “O pacto simbólico que então faz com D. Afonso Henriques sela o ideal sinárquico que une a cavalaria templária à cavalaria islâmica muridínica, afinal uma convergente cavalaria espiritual. É esse arco voltaico de natureza iniciática que liberta a sinergia donde Portugal virá a brotar”. (ALVES, 2007, p. 75)
AS SALAM MALEIKOOM !
FAVOR ENVIAREM SEMPRE MENSAGENS DE ”SUFISMO” “…
GRATO, CORDIALMENTE !
ALLÁHU AKBAR – BISMILLÁH
elhabib.marwann@gmail.com
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