Cavaleiros da Duquela
A presença de Portugal em Marrocos limitava-se a uma rede de praças isoladas situadas na costa, comunicando entre si por via marítima. Essa presença nunca existiu no interior do país, onde não existem vestígios edificados, a não ser os dos cativos portugueses ao serviço das autoridades locais. No entanto, a constituição do chamado Protectorado da Duquela, coincidente com a capitania de Nuno Fernandes de Ataíde em Safim, representou um esforço da Coroa Portuguesa para o domínio de um vasto território no interior do Sul do país, numa estratégia ilusória da criação de um Marrocos Português, que o tempo se encarregaria de contrariar.
E se, no dizer algo romântico de alguns autores como David Lopes, “a sua capitania é a página mais assombrosa da história luso-marroquina; foram seis anos de vida trepidante de cavalgadas e combates (…) ele e os seus companheiros foram que fizeram do nome português sinónimo de bravura e lhe criaram essa auréola que ainda tem naquele país” (LOPES, [1937] 1989, p. 31), a verdade é que o Protectorado foi criado com base numa política de terror, à custa do sangue e do sacrifício das populações locais, para quem a presença de Portugal não deixou saudades, como prova esta frase de Marmol y Carvajal sobre a destruição da cidade de Tidjout pelos portugueses:
“A cidade foi repovoada rapidamente depois, e vive-se aí tranquilamente desde que os Portugueses abandonaram Safim”. (MARMOL y CARVAJAL, [1573] 1667, p. 17)