Gravura de Mazagão. Estudo da táctica à Vauban durante o cerco de 1769, Casa de Ínsua
A expansão em Marrocos
A expansão em Marrocos revelou-se particularmente complexa. O país era fortemente povoado por uma “população aguerrida e imbuída de uma doutrina motivadora” (LOPES, 1925: XXVII), o que inviabilizou uma ocupação do interior do território, permitindo apenas a criação de uma rede de praças-fortes na costa Atlântica. Isoladas umas das outras e sujeitas a um bloqueio terrestre, dependiam totalmente do mar, de onde eram abastecidas em termos de alimentos e de logística militar.
A rede de praças-fortes garantia a supremacia estratégica portuguesa no Mar dos Algarves e no Estreito de Gibraltar, e assegurava a segurança da circulação dos navios comerciais que traziam os escravos, o ouro e as especiarias a partir do Atlântico Sul. No quadro da sua gestão em território marroquino, a dita rede não era contínua, constituindo-se em duas áreas distintas, os chamados Marrocos Verde e Marrocos Amarelo (SANTOS 2009: 3), entre os quais se situava um hiato, uma área ocupada por várias bases de corsários, que garantiam ao Reino de Fez o acesso ao mar e mantinham viva a guerra do corso e a ameaça permanente à navegação europeia e à segurança da costa de Portugal.
Mapa das praças portuguesas de Marrocos
As duas referidas áreas eram distintas a diversos níveis.
No Marrocos Verde, fortemente urbanizado, a rede era constituída por quatro cidades conquistadas no século XV, com objectivos essencialmente estratégicos, Ceuta, Alcácer Ceguer, Arzila e Tânger, cuja ocupação obrigou à introdução de mecanismos de adaptação radicais e violentos para viabilizar a sua gestão com os recursos disponíveis.
No Marrocos Amarelo, na chamada Duquela, território situado entre o rio Morbeia (Oued Oum Er-Rbia) e o rio Tenerife (Oued Tensift), mas cuja área de influência se prolongava para Sul, para a região do Suz, região de povoamento disperso, a ocupação processada no século XVI teve um carácter que associou aos aspectos estratégicos uma forte componente económica (LOPES, [1937] 1989: 55-61). Portugal estabelecera acordos de vassalagem no final do século XV com as cidades de Safim e Azamor e no século XVI apodera-se dessas duas cidades e cria uma rede de fortalezas, Santa Cruz do Cabo Guer, Bom Mirão, Castelo Real de Mogador, Castelo de São Jorge de Mazagão e Castelo de Aguz, que assegurava a vassalagem das tribos árabes e berberes dos territórios vizinhos, para além de contrariar as pretensões espanholas na região.
Estats et royaumes de Fez et Maroc, Dahra et Segelmesse tirés de Sanuto, de Marmol, etc. Nicolas Sanson 1655. Bibliothèque Nationale de France
Nos dois Marrocos a situação política era totalmente diversa, o que teve como resultado um relacionamento distinto com os poderes locais. Enquanto no Marrocos Verde existia um poder centralizado pela dinastia Oatácida instalada em Fez, o chamado Bled el-Makhzen ou “País da Lei”, no Marrocos Amarelo o poder encontrava-se disperso pelas várias tribos, que geriam os seus destinos de forma autónoma, o chamado Bled es-Siba ou “País do Caos”. Estes relacionamentos eram complexos, já que, nem o poder de Fez era estável, gerindo de forma habilidosa as contradições internas, os interesses dos alcaides mouriscos de Tetuão, Xexuão, Alcácer Quibir e Jazém, e uma política externa oficial com o Reino de Portugal (LOPES, 1925: 83 e 79), nem os relacionamentos com as tribos da Duquela eram lineares, com toda a heterogeneidade das cabilas árabes e berberes, com o poder dos morábitos, dos Emires Hintata instalados em Marraquexe e dos emergentes Xarifes Sádidas do Suz (BENHIMA, 2003: 205-209).
O atalhamento de Safi. Fonte Jorge Correia
Mecanismos de sobrevivência
Para sobreviver nestas condições extremamente difíceis, os portugueses implementaram uma política de gestão do território ocupado assente em três vectores fundamentais: uma forte componente tecnológica, com base nos princípios inovadores da arte da guerra, da arquitetura militar e do urbanismo; estratégias criativas para controlar territórios sem os ocupar em permanência, caso da ocupação diurna dos terrenos envolventes às praças; uma intensa atividade diplomática que tirou partido das divisões internas que se verificavam no país, utilizando o papel mediador da comunidade judaica, que facilitou um diálogo permanente entre as partes e assegurou a existência de trocas comerciais.
A política de ocupação das cidades implementada por Portugal, expulsando os seus habitantes, teve desde logo como consequência a herança de estruturas urbanas demasiado grandes e ingovernáveis. Para solucionar este problema, os portugueses reduziam a área da cidade conquistada através de um processo com base nos atalhos, tramos de muralha interiores ao perímetro muralhado, que a seccionavam, dividindo-a em duas partes. Criava-se assim a Vila Nova e a Vila Velha. A Vila Nova, onde os portugueses se instalavam, era invariavelmente de menor dimensão e abarcava a área mais próxima do mar, onde era possível realizar os necessários abastecimentos. As construções e a muralha da Vila Velha eram progressivamente demolidas, já que constituíam um perigo por serem uma fonte de possíveis emboscadas, e a área acabava por se transformar em campos de cultivo, pomares e pastagens para o gado. (CORREIA, 2008: obra citada)
Projeto da Couraça de Alcácer Ceguer de 1502 (Regimento de D. Manuel I a Pedro Vaz para o acrescentamento da couraça e obras dos cubelos da vila de Alcácer-Ceguer, e mandado para o dito Pedro Vaz preparar o dinheiro para estas despesas), Arquivo Nacional da Torre do Tombo
Elementos fundamentais das fortificações portuguesas eram as couraças, tramos de muralha perpendiculares à cintura principal, que se prolongavam até ao mar. As couraças seriam um elemento constante e marcante das fortificações portuguesas em Marrocos, garantindo não só que as manobras de abastecimento se realizassem em segurança, como assegurando o próprio controlo das frentes ribeirinhas enquanto territórios vitais à sobrevivência das praças-fortes. Eram postos avançados de artilharia sobre o mar e corredores fortificados para cargas e descargas.
A criação das praças de Marrocos aconteceu num período revolucionário da arquitectura militar, em que as armas de propulsão mecânica evoluem para armas de propulsão através da pólvora. Durante o século XV, as intervenções nas quatro cidades conquistadas, Ceuta, Alcácer-Ceguer, Arzila e Tânger, consistiram basicamente da reparação e manutenção das cercas existentes e da criação de condições para a instalação das guarnições portuguesas.
No início do século XVI, com a generalização da utilização da pólvora, a Coroa Portuguesa decide levar a cabo obras de fundo. Neste período, chamado da transição, o modelo medieval coexiste com as inovações renascentistas, mas os conceitos medievais vão sendo abandonados e as fortalezas começam a sofrer modificações para melhor resistirem aos ataques da artilharia.
O Baluarte do Anjo da Cidadela de Mazagão
Após a queda de Santa Cruz do Cabo Guer em 1541 e a unificação de Marrocos pelos Sádidas em 1549, a filosofia de ocupação portuguesa é alterada, decidindo-se o abandono da maioria das praças, mantendo-se apenas Ceuta e Tânger no Norte e Mazagão no Sul, praças que seriam reformuladas de acordo com os mais modernos princípios da arquitectura militar do Renascimento. Neste período, a arquitectura militar já se encontrava liberta dos conceitos medievais, e a concepção das fortificações é realizada de forma global, a partir do estudo dos ângulos de tiro e tendo como elemento base o baluarte, como sintetiza Rafael Moreira a propósito do projecto de Benedetto da Ravena para Mazagão:
“A absoluta novidade do projecto do engenheiro italiano residia, acima de tudo, na sua concepção do baluarte pentagonal como elemento de um conjunto, a ‘frente abaluartada’, disposta de forma a poder varrer o terreno adjacente com o fogo cruzado de tiros de enfiamento capaz de manter afastada qualquer tentativa de assalto.” (MOREIRA, 2001: 49)
Estruturação urbana de Tânger. Fontes Jorge Correia e Martin Malcolm Elbl
O facto de os portugueses terem ocupado estruturas urbanas pré-existentes obrigou a sua adaptação às necessidades de uma gestão colonial, muito ligada à defesa e à logística. A necessidade da introdução de ordem, disciplina e racionalidade, traduziu-se em intervenções urbanísticas chamadas de arruar ou arruação, baseadas na afirmação de uma Rua Direita enquanto eixo principal de estruturação e de especialização de funções, e na regularização do traçado de alguns quarteirões (CORREIA, 2008: 389-419). As intervenções urbanísticas eram indissociáveis dos próprios conceitos de defesa das praças, já que estavam intimamente ligadas à facilidade de movimentação das tropas e seu acesso rápido aos caminhos de ronda e à localização estratégica dos equipamentos de logística e defesa. Assim, para além das operações de arruar, as intervenções urbanísticas organizavam as cidades em termos funcionais, implantando os equipamentos vitais à sua sobrevivência. A marca específica do urbanismo português está patente nessas intervenções de adaptação das estruturas pré-existentes, que constituem a génese do próprio urbanismo colonial português, concretizado em toda a sua plenitude na construção da Cidadela de Mazagão em 1542.
O campo da Duquela junto ao Cabo Beddouza
O campo exterior
As praças-fortes de Marrocos organizavam-se de modo a subsistir num contexto extremamente hostil, o que levou os portugueses a abri-las para o mar, de onde chegavam os abastecimentos e o auxílio militar, voltando costas à terra, fonte de todos os perigos. No entanto, as praças não podiam viver totalmente dissociadas do território envolvente, pelo menos daquele que se encontrava mais próximo, já que os seus habitantes, apesar de confinados ao perímetro muralhado enquanto reduto seguro, precisavam de sair dele todos os dias para efectuar tarefas fundamentais à sua subsistência. A recolha de lenha era uma delas, o desenvolvimento de uma agricultura de carácter precário e de produção limitada era outra, a garantia de pasto para as poucas cabeças de gado que detinham outra ainda. Sem essas actividades, a vida nas praças seria bem mais dura, não só porque permitiam que a dieta dos seus habitantes não se limitasse ao biscoito e à carne seca, mas fosse também composta por alguns frescos, para além do próprio aspecto psicológico que a saída diária fora de portas tinha, atenuando a sensação de encarceramento que a vida nas praças originava.
Para garantir que essas tarefas se realizavam em segurança, os portugueses desenvolveram sistemas defensivos engenhosos, sujeitos a procedimentos rotineiros rígidos, estruturando um modelo de vigilância e de defesa capaz de assegurar a segurança dos trabalhadores agrícolas e da própria praça, que se desguarnecia momentaneamente durante os períodos em que as portas estavam abertas.
A situação de isolamento das praças portuguesas correspondia a um território envolvente despovoado, já que as acções de contraguerrilha realizadas pelos almogávares, força de elite que tinha por missão fazer incursões em território inimigo, destruindo colheitas, roubando gado e fazendo cativos (termo com origem no Árabe Al-mighuar, pl. Al-maghauir, que significa “corajoso”), afastavam as aldeias anteriormente existentes, criando uma espécie de terra de ninguém, que se encontrava de certa forma instituída como “pertencente” aos portugueses no acordo de paz de 1471, celebrado entre o Reino de Portugal e o Reino de Fez (LOPES, [1937] 1989: 26). Este território era na prática um território disputado, que tinha para os portugueses uma importância fundamental para a sua segurança e logística, e para os marroquinos enquanto zona de pressão sobre a vida diária das praças portuguesas.
O Borj Nador, atalaia portuguesa da praça de Safim, construída em 1510 na falésia de Sidi Bouzid
Logo após a conquista de Ceuta, o modelo sobre o qual assentaria a generalidade dos campos exteriores das praças-fortes é esboçado, com a criação de uma zona de segurança do lado de terra, posteriormente utilizada de forma diurna. Durante os primeiros dias que se seguiram à ocupação da cidade, muitos habitantes expulsos permaneceram junto dos muros, dando luta permanente aos portugueses, que faziam surtidas esporádicas sem se afastarem em demasia. A zona era densamente arborizada e as ciladas uma constante. Muitas árvores foram então derrubadas, valados destruídos e mato queimado, com o objectivo de se criar uma zona de segurança com pelo menos uma légua de extensão, com boa visibilidade e sem condições para que os mouros se escondessem. (ZURARA, [1463] 2015: [248-252 e 260] 44-48 e 56).
O conde D. Pedro de Menezes mandou então construir várias atalaias, torres edificadas em outeiros vizinhos, onde foram colocadas as escutas, que vigiavam os movimentos do inimigo e alertavam para qualquer perigo. As atalaias davam também cobertura aos habitantes que saíam pelas portas em busca de lenha e frutas. (ZURARA, [1463] 2015: [263] 59)
Foram trazidos cavalos para Ceuta, já que os que tinham ficado após a tomada da cidade eram em número muito reduzido, aumentando assim o raio de acção dos portugueses e a eficácia dos seus ataques. A construção das atalaias e a chegada dos cavalos empurrou ainda mais os mouros para fora dos limites da cidade. Foram ocupar as encostas das Serras da Ximeira e da Gomeira e concentraram-se em aldeias e vales, como são exemplo os vales de Laranjo, Bulhões, Barbeche, Castelejo ou Negrão, onde se defendiam mais eficazmente das surtidas dos portugueses, ou os lugares de Romal, Albegal, Almarça, Água do Ramel, ou Alvergal. (ZURARA, [1463] 2015: [277, 282, 288, 291, 315, 327, 369, 411] 73, 78, 84, 87, 111, 123, 165, 207)
Gravura de Ceuta em 1572, in “Civitates Orbis Terrarum” de Braun e Hogenberg, Biblioteca Nacional de Portugal
A gravura de Ceuta de Braun e Hogenberg representa várias atalaias construídas a Poente da cidade, assim como a demolição dos arrabaldes situados a Nascente do fosso da Almina, integrada no processo de atalhamento iniciado após a conquista de 1415. Os terrenos libertados com a demolição dos arrabaldes foram progressivamente transformados em campos de cultivo e pomares, ficando naturalmente protegidos do território exterior pela própria cidade e pelo mar (CORREIA, 2008: 95). Esta situação encontra-se ilustrada na Planta de Ceuta de 1724.
Plan de Ceuta en Affrique et du camp des Maures / Levé le 31 juin 1724 par l’ingénieur de la Place. Bibliothèque nationale de France
O campo exterior, entendido como os terrenos envolventes à praça, onde se realizavam diariamente as actividades relacionadas com a agricultura e a criação de gado, era organizado de forma racional e sistematizada, tirando plenamente partido da sua área, hierarquizado, distribuindo as funções de acordo com a sua importância e necessidades de mão-de-obra, e militarizado, criando obstáculos a possíveis ataques e permitindo a todo o momento a sua evacuação em segurança. O sistema era baseado numa simbiose entre elementos construídos precários e procedimentos rotineiros.
Podemos hierarquizar o campo exterior em três zonas com características distintas – o Campo Exterior Consolidado, a Terra das Atalaias Curtas e a Terra das Atalaias Longas (PAULA, 2019: 50).
Terrenos delimitados por valos
O Campo Exterior Consolidado era a zona onde se praticava uma agricultura de subsistência e as pastagens para o gado, e era estruturado por meio de dois elementos fundamentais, os valos e as tranqueiras. Os valos eram muros de pedra solta com uma altura de cerca de um metro e setenta. Estes muros eram como que uma segunda muralha, mais rudimentar, cuja função era evitar ataques súbitos com utilização de cavalaria, que pudessem colocar em causa as manobras de evacuação para o interior da praça. O valo principal encerrava o perímetro exterior do campo e os valos secundários dividiam o campo em talhões, e desenhavam os seus caminhos, chamados mangas. As tranqueiras, paliçadas de madeira fixas ou amovíveis, funcionavam como portas dos caminhos definidos pelos valos. A actividade agrícola era também hierarquizada, colocando-se as hortas na zona mais próxima da praça, e as vinhas, pomares, searas e pastagens nas zonas mais afastadas.
A Terra das Atalaias Curtas correspondia à zona de recolha de lenha e de caça, e era delimitada pelos fachos, atalaias que podiam ser simples colinas ou torres construídas, e que se subordinavam em termos hierárquicos a uma atalaia-mãe, denominada o Facho.
A Terra das Atalaias Longas era um perímetro mais alargado, onde as sentinelas eram colocadas aos pares e em turnos de 12 horas. Segundo Adolfo Guevara, as atalaias longas em Arzila correspondiam a uma zona de vigilância sazonal, que atingia uma distância de oito a dez quilómetros da cidade, normalmente relacionada com a época das colheitas, aumentando o tempo entre o alerta e a evacuação (GUEVARA, 1940: 43), mas em Tânger, segundo o Regimento do Campo de Tangere, escrito pelo Almocadem Braz Fernandes Couto, era uma zona de vigilância diária (MENESES, 1732, 284-295).
As denominações facho e atalaia parecem assim ter um significado diferente, sendo o primeiro uma estrutura elaborada e com comunicação visual com a praça, e a segunda uma simples posição de vigilância num lugar situado nos terrenos mais afastados. No entanto, em Arzila, a denominação facho é apenas atribuída à atalaia-mãe, ou seja, à única que comunicava com a torre de menagem do castelo.
A Torre Gandori em Tânger
O Outeiro de Fernão da Silva, uma das atalaias de Arzila
A vida nas praças estava intimamente relacionada com a própria actividade desenvolvida no campo exterior e seguia um procedimento rotineiro diário. Às primeiras horas do dia saíam os escutas, atalhadores ou monteiros (RODRIGUES, [156-] 1919: 130), que examinavam cuidadosamente todo o campo, procurando infiltrados que se tivessem escondido durante a noite para emboscar os lavradores. Após a inspecção ao campo feita pelos atalhadores, saíam os atalaias, que ocupavam as suas posições no cimo de determinadas colinas. Com eles iam os costas, que lhes davam protecção, posicionando-se na base das mesmas colinas. Se o campo estivesse seguro, os atalaias informavam o Facho e o facheiro içava uma cesta forrada com pano num mastro situado no cimo da torre. O sinal era recebido na torre de menagem do castelo e o governador dava ordem para os trabalhos no campo se iniciarem através de cinco badaladas do sino. Ao mínimo sinal de perigo, o facho era arreado, dando o alerta. Da torre de menagem partia a ordem de evacuação do campo exterior, comunicada através de tiros de canhão, de badaladas de sino ou de sinais de fumo ou fumaças. Toda a gente voltava para o interior da praça o mais depressa possível e a porta era fechada.
A Torre de Menagem de Arzila, actual Borj El Kamra
Chamava-se a este sistema defensivo, que combinava defesas precárias com procedimentos rotineiros rígidos, segurar o campo. (RICARD, 1933: 164)
Todo este sistema defensivo era complementado com um outro, ofensivo ou preventivo, baseado na actividade dos almogávares. Comandados por um almocadém (do árabe al-muqqadam, que significa “o que precede” ou “o que vai à frente”), tinham por missão fazer incursões em território inimigo, destruindo colheitas, roubando gado e fazendo cativos, com o objectivo de pacificar as populações ou afastá-las para áreas mais remotas, para além de combater os guerrilheiros ao serviço do rei de Fez. As suas acções tinham o nome de almogavérias, entradas ou correrias.
David Lopes escreve o seguinte sobre os almogávares:
“Para encaminhar esta gente nas corridas dos capitães ou nas almogavérias havia guias que bem conheciam os caminhos; esses guias chamavam-se almocadéns, que eram, em regra, mouros do campo convertidos ao cristianismo, isto é, mouriscos. Eram pessoas de toda a confiança dos capitães, porque deles dependia a vida da gente.” (LOPES [1937] 1989: 43)
De seguida abordamos o campo exterior de três praças-fortes, Arzila, Tânger e Mazagão. A definição dos seus campos exteriores é o resultado do cruzamento de diversa informação, como a pesquiza de fontes bibliográficas, o estudo de cartografia e imagens disponíveis, a topografia do terreno, a toponímia e certas evidências que os seus elementos deixaram nas cidades actuais ao nível do traçado urbano e de zonas homogéneas.
A abordagem ao campo de Arzila é basicamente uma interpretação do trabalho de Adolfo Guevara, apenas enquanto contributo para o estudo dos campos de Tânger e Mazagão, cuja definição constitui uma abordagem a cenários possíveis, contendo aspectos que podemos considerar especulativos, não só ao nível do seu desenho, como ao nível da denominação dos seus elementos e toponímia. Com efeito, muitos topónimos referidos no texto são impossíveis de referenciar no terreno, como escreveu a esse propósito Robert Ricard:
“Em Ceuta como em Tânger e em Mazagão, os Portugueses elaboraram na sua língua e para seu uso pessoal toda uma toponímia particular: tanto evoca um aspecto da paisagem – por exemplo Cabeça Ruiva – tanto a lembrança de um fidalgo que se distinguiu nesse lugar, de um soldado que aí foi morto, etc. – por exemplo o outeiro de Martim Gomes. Toda esta toponímia está hoje morta: é mais ou menos impossível actualmente determinar ao que corresponde no terreno, e é preciso resignarmo-nos a deixá-la de lado.” (RICARD, 1955: 21)
O fosso de Arzila num postal antigo
O campo exterior de Arzila
David Lopes faz referência aos elementos que estruturavam o campo exterior de Arzila:
“Para estorvar os movimentos da cavalaria inimiga, para lá da cava fizeram-se valas ou trincheiras de pedra ou de terra, com ruas e tranqueiras nos extremos e meios delas, para suportar a fúria da gente de cavalo; e desfeitas pelos mouros muitas vezes, umas e outras facilmente se levantavam de novo.” (LOPES, 1925: 70)
Após o cerco de 1516, o capitão de Arzila deu ordem para que as defesas do campo exterior fossem rapidamente refeitas, como escreveu Bernardo Rodrigues:
“Levantado o cerco e os mouros idos, o conde deu logo ordem para limpar a cava e tapar as que os mouros fizeram e em fazer os valos, trabalhando nesta obra toda a gente, assim de fora como a da vila.” (RODRIGUES, [156-] 1915: 202)
Gravura de Arzila em 1572, in “Civitates Orbis Terrarum” de Braun e Hogenberg, Biblioteca Nacional de Portugal
A gravura de Arzila de Braun e Hogenberg representa alguns dos elementos fundamentais do relacionamento da vila com o território envolvente, como a Torre de Menagem, a planície onde se implantava o Campo Exterior Consolidado, delimitado pelas colinas circundantes e pelo Rio Doce, o Facho, ao fundo, no centro da imagem, e as duas colunas cujo alinhamento indicava a passagem de acesso dos navios ao porto por entre os rochedos.
O primeiro estudo sobre o tema foi realizado por Adolfo Guevara na sua obra Arcila durante la ocupación portuguesa (1471-1549) (GUEVARA, 1940: obra citada), na qual, baseando-se nos escritos de Bernardo Rodrigues (RODRIGUES, 1915 e 1919: obra citada), morador nessa cidade, estabeleceu os princípios fundamentais a que obedecia a estruturação e gestão dos terrenos envolventes.
Os três desenhos elaborados por Adolfo Guevara
Guevara inclui no seu livro três desenhos.
O primeiro, denominado Croquis del Campo exterior de Arcila, representa aquilo que podemos chamar o Campo Exterior Consolidado, ou seja, o perímetro definido pelos valos. Abarcava uma área de cerca de 130 hectares, contra os apenas oito hectares da área muralhada da cidade, e tinha um perímetro de cerca de seis quilómetros, dos quais três quilómetros e meio eram cercados por valos. Diz Guevara a propósito deste desenho:
“Este sistema de barricadas e paliçadas impediam todas as manobras da cavalaria marroquina, que periodicamente corria a vila, tendo que avançar por estreitas ruelas, derrubando troços de muros, em diversos sítios, a fim de poder evoluir com certo desafogo.” (GUEVARA, 1940: 31)
Cada valo e cada tranqueira tinham o seu próprio nome, como o Valo do Rio Doce ou o Valo interior do Rio ao Facho, ou a Tranqueira do Facho, a Tranqueira do Meio, a Tranqueira de Baixo, a Tranqueira Nova, a Tranqueira de João Coelho, a Tranqueira do Cano Quebrado, a Tranqueira do Laranjal, a Tranqueira do Meirinho, a Tranqueira das Pontinhas e a Tranqueira do Adro.
Existiam dois valos principais. Um ao longo da praia, chamado Valo do Rio Doce, e outro, na frente de contacto com o interior do território, a Nascente, ligando as 3 atalaias principais, o Facho, a mãe de todas as atalaias, o Outeiro de Fernão da Silva e o Outeiro de Pero Cão, chamado Valo Interior do Rio ao Facho. Dos lados Norte e Sul o campo era protegido naturalmente por dois cursos de água, sobretudo pelo Rio Doce ou Oued Helu do lado Norte. O Facho era uma torre construída e tinha a função de centralizar toda a informação emanada dos terrenos circundantes, nomeadamente das chamadas atalaias curtas, e enviá-la para a torre de menagem da praça, a partir da qual eram dados os alertas.
No campo, as hortas ocupavam o lugar mais próximo das muralhas da cidade, pelo facto de exigirem a maior parte da mão-de-obra e de guardarem os alimentos mais valiosos. Ao longo do fosso do atalho, entre os Baluartes de Tambalalão e de Santa Cruz, ficava o Terreiro das Hortas, com destaque para a Horta do Conde, governador da praça. Entre esse Terreiro das Hortas e o Facho situavam-se outras hortas, estruturadas através de um caminho de ligação e quatro caminhos perpendiculares, delimitados por muros de pedra. Para fechar esses caminhos em caso de ataque, sobretudo com cavalaria, eram colocadas tranqueiras ou paliçadas, que funcionavam como portas.
Depósito de água existente em 1940 no local do antigo Facho de Arzila. Foto Adolfo Guevara
O segundo desenho é denominado Campo Exterior de Arcila, Emplazamiento de las Atalaias Curtas e representa a rede de atalaias que rodeavam o campo exterior, a uma distância de entre dois quilómetros e meio a cinco quilómetros. Guevara refere que as atalaias curtas comunicavam com o Facho por meio de trombetas (GUEVARA, 1940: 42). Os seus nomes eram Atalaia do Corvo, Atalaia de Bugano, Atalaia Gorda, Atalaia do Mar e Atalaia Ruiva.
Bernardo Rodrigues descreve o Facho. Diz o cronista:
“A ordem que no Facho se tinha era que no caramanchão havia um grande mastro de uma caravela, e no topo dele uma gaiola, onde o facheiro se metia subia pelos seus degraus, e da gaiola saia um mastaréu, em cima do qual o facheiro guindava o facho; isso fazia depois dos valos descobertos.” (RODRIGUES, 1915: 73)
O sistema de vigia do exterior da praça também se fazia do lado do mar. Em Arzila, quando era detectado qualquer barco corsário, o alerta era dado através de sinais de fumo ou fumaças, a partir do Baluarte da Couraça, como conta Bernardo Rodrigues a propósito de uma incursão do corsário de Larache, Quartão arráiz:
“Neste verão e tempo em que passava o que está contado e apontado, Quartão, arráiz da fusta de Larache, de quem já falei, quando nos correu quando vínhamos de Azamor, veio a entrar por mar e do Cabo Branco saiu aos barcos de pescar com sua fusta; e, sendo visto pelas atalaias e dado o rebate acostumado e feita sua fumaça no baluarte da Couraça, que era o sinal que havia navio de remos, os barcos, tomando rebate da bombarda e vendo a fumaça, conhecendo que era navio de remos, se vieram recolhendo, mas primeiro chegou a fusta a um deles e, pondo-lhe o esporão em cima, os do barco levantaram o remo, dando-se por entregues.” (RODRIGUES, [156-] 1915: 349)
O Baluarte da Couraça de Arzila
Nos períodos das colheitas a área de vigilância em torno de Arzila era ampliada para um raio de oito a dez quilómetros, somando-se às atalaias curtas as atalaias longas, o que aumentava significativamente o tempo de alerta disponível. Activadas as atalaias longas, e ampliada a área do campo exterior da praça, organizavam-se caçadas aos javalis, coelhos, antílopes e gazelas. Frequentemente organizavam-se batidas aos leões e chacais.
O terceiro desenho denomina-se Region de Arcila, Toponímia Portuguesa en el Siglo XVI e representa os locais onde a actividade dos almogávares portugueses era mais frequente e qual a sua designação na toponímia portuguesa.
É interessante constatar que os alcaides marroquinos criaram um sistema defensivo nas aldeias da região, semelhante ao que os portugueses criaram para Arzila, que consistia de paliçadas de madeira de protecção e sistemas de alerta baseados em atalaias e pequenos fortes, formando uma linha de observação, que ligava as montanhas de Jebel-Habib, Beni-Arous, Beni Gorfet, Ahl-Serif, Mejazen, Uarur e outeiros próximos de Alcácer Quibir. As planícies situadas entre as atalaias portuguesas e as marroquinas eram consideradas terra de ninguém e estavam desabitadas. Existem relatos que falam de populações refugiadas nas montanhas com o seu gado e da existência de tuneis para garantir a sua fuga (GUEVARA, 1940: 68-69).
Interpretação da planta de Adolfo Guevara denominada Croquis del Campo exterior de Arcila
Como conclusão da análise do trabalho de Guevara, podemos afirmar que, apesar de efémera e precária, a estrutura defensiva que os portugueses implantaram no campo de Arzila acabou por perdurar, em elementos urbanos actuais como vias e limites de propriedades, sem prejuízo de que as condições da topografia influenciam decisivamente toda e qualquer ocupação do território. O Valo do Rio Doce corresponde à actual Avenida Moulay Hassan Ben Mahdi, e o Valo Interior do Rio ao Facho corresponde sensivelmente aos limites da área urbana Nascente da cidade, junto à Avenida Khalid Ibn Oualid. O local do Facho, que no tempo de Guevara era ocupado por um reservatório de água, situava-se a Sul da zonal do actual Parque Kodya Sultan, e desse local era assegurada comunicação visual com a Torre de Menagem do Castelo. A ligação da Porta do Campo ao Facho fazia-se por um caminho cujo percurso é hoje realizado pelas actuais Avenue Hassan II e Rue El Hamra.
Tânger vista dos Pomares ou Marchane, num postal antigo
O campo exterior de Tânger
As fontes históricas que fornecem contributos fundamentais para o estabelecimento do Campo Exterior de Tânger são o Memorial de Tangere, 1599-1610 de Afonso Fernandes, integrado na obra de Benjamin Teensma, O Diário Tangerino de Afonso Fernandes (TEENSMA, 2008: obra citada), e a História de Tangere de D. Fernando de Meneses (MENESES, 1732: obra citada), governador de Tânger entre 1656 e 1661, que inclui o regulamento do campo de Tânger, escrito pelo Almocadém Braz Fernandes Couto, intitulado Regimento, que se há de ter no Campo de Tangere, e de que maneira se hão de mandar, e repartir os Atalaias, feito pelo Almocadém Braz Fernandes Couto, Cavaleiro da Ordem de Cristo, em idade de noventa anos; e se põe aqui para inteligência desta História.
O texto de D. Fernando de Meneses estabelece de fora precisa os limites do Campo de Tânger, situando-o entre dois cursos de água, o Rio dos Judeus, do lado Poente, e a Ribeira de Magoga, do lado Nascente (MENESES, 1732: 4-5).
A mão direita de D. Fernando de Meneses
O governador da cidade descreve a região de Tânger de forma curiosa, fazendo uma analogia com uma mão direita com os dedos afastados:
“Considere-se a mão direita sobre um plano: os dois dedos, polegar e indicador, apartados quanto é possível de forte (…) achar-se-á entre um e outro a enseada, que como está dito tem a boca ao Norte: o indicador que é o maior forma a linha de Levante, coroada de outeiros: na ponta fica Trasfalmenar, na junta do meio as ruínas de Tânger o Velho: na última junta o Xarfe, monte levantado, e posto importante para as vigias do campo, regado pela parte de Levante com a ribeira de Magoga, e pela de Ponente com outras águas que correm do campo. O espaço que há entre um e outro dedo ocupa uma praia coberta de alguns medãos de areia, que vem rodeando a enseada no princípio do polegar, que é a linha menor, e mais Ocidental aonde está a cidade (…) E continuando a sua descrição acharemos (posta a mão como fica dito com os mais dedos largos) na ponta do maior a serra Ximeira, fronteira ao monte de Gibraltar, que forma o Estreito de três léguas, e ao pé dele Ceuta entre este dedo, e o indicador quase em igual distância Alcácer Ceguer (…) mais vizinha ao indicador fica a ribeira de Benaíssa, que desagua em Guadaleão. Entre o dedo maior e o anelar fica Tutuão.” (MENESES, 1732: 5-6)
Em Tânger existiam estruturas defensivas no exterior da muralha muito semelhantes às de Arzila:
“Para proteger-se dos inesperados ataques das tropas dos Alcaides Marroquinos, e também das tribos armadas dos Berberes da região, os Tangerinos tinham construído diante das muralhas da cidade uma faixa defensiva semicircular composta de tranqueiras, e diante delas um parapeito de pedras amontoadas, o chamado Valo (…) Entre o valo e as muralhas da cidade cultivavam as suas hortas, que produziam algumas frutas, legumes e trigo.” (TEENSMA 2008: 27)
La Baÿe De Tanger En Barbarie de Henry Michelot 1679, Bibliothèque Nationale de France
Esta faixa semicircular está desenhada na planta La Baye de Tanger en Barbarie de Henry Michelot de 1679, na qual se encontram representadas as “barreiras da cidade”. A planta representa também três torres de vigia _ o Facho, a Torre de Tânger o Velho e a Torre de Almenar ou Xarfe do Cabo, situada no Cabo Trasfalmenar ou Cabo Trafalgar, hoje chamado Cabo Malabata.
Este sistema defensivo avançado, recorrendo a tranqueiras e ao valo, não seria estranho à antiga muralha então demolida e às construções que protegia originalmente. A construção dos muros de atalho pelos portugueses teria criado um vazio no território semiurbano que pode ter cumprido esse papel essencial no processo de vida da população, assegurando um mínimo de bens de primeira necessidade. Deste ponto de vista, o material demolido da cerca precedente, então desactivada, e dos edifícios que protegia, não teria sido utilizado apenas para a construção dos atalhos, mas também do valo.
Refira-se que a teoria do atalhamento da cidade, reduzindo a sua área, defendida por Jorge Correia (CORREIA, 2008: 211-214), é recusada por Pedro Dias, que apenas considera a construção de um muro de atalho do lado Sul (DIAS, [2000] 2002: 76). A contradição entre a posição dos dois autores está descrita na obra de Martin Malcolm Elbl (ELBL, 2013: 139), que interroga aquilo a que chama a questão dos modelos da Little Tangier de Dias e da Big Tangier de Correia. Serão assim duas interpretações da seguinte frase de D. Fernando de Meneses:
“Parecendo-lhe depois, que a cidade era grande, e necessitava de igual presídio para sua defesa, a mandou cortar, e reduzir a mil vizinhos, tendo antes mais de quatro mil, que isto fazem as mudanças do tempo, e dos impérios.” (MENESES, 1732: 34)
O Campo Exterior Consolidado de Tânger
A estruturação desta área intra-valo, que podemos chamar o Campo Exterior Consolidado, era complexa, sendo formada por talhões delimitados por ruas definidas por outros muros de pedra solta, chamadas mangas, encerradas em diversos pontos por uma espécie de portas construídas por paliçadas amovíveis de madeira, as tranqueiras. Nas saídas das ruas para o exterior do valo principal existiam revelins, baluartes de forma triangular construídos em terra. D. Fernando de Meneses esclarece a diferença entre os valos, muros de pedra solta que formam ruas, e as tranqueiras, paliçadas com a função de portas para fechar essas ruas:
“Por esta razão se fizeram fora da cidade valos de pedra que não pode passar a cavalaria com ruas, e tranqueiras nas bocas que se fecham, e outras nos meios para se sustentar melhor a fúria da cavalaria, formando-se em alguns lugares cómodos, e iminentes redutos, e mangas para pelejar a infantaria; e ainda que os Mouros desfazem algumas vezes estas obras, com facilidade se restauram.” (MENESES, 1732, p. 41)
Temos referências à Rua do Chafariz do Almirante, à Rua da Abóbada e à Rua da Fonte do Longe, e a dois dos revelins, o do Chafariz do Almirante e o dos Pomares. Existiam inúmeras tranqueiras, cada uma com o seu nome, como a Tranqueira dos Pomares, a Tranqueira das Canas, a Tranqueira Nova, a Tranqueira de Angera, a Tranqueira de Benamenim, a Tranqueira do Verde, a Tranqueira dos Três Paus, a Tranqueira da Lagem, a Tranqueirinha, a Tranqueira da Silveirinha ou a Tranqueira do Charcão, entre muitas outras.
O valo exterior, de configuração semi-circular, ligava a Falésia de Bouknadel à Praia. A sua implantação seria aproximadamente coincidente com as actuais Rue Anoual, Rue de Belgique e Avenue Hassan II, com uma distância de cerca de 500 metros da muralha do lado Poente e 250 metros do lado Sul, o que perfaz uma área de cerca de 75 hectares.
A Terra das Atalaias Curtas ou Terra dos Fachos de Tânger
No exterior do valo ficava a Terra das Atalaias Curtas ou Terra dos Fachos e “as colinas ocidentais daquele campo chamavam-se os Pomares. Era a partir dali que os Portugueses procuravam erva para os animais, e lenha para as cozinhas” (TEENSMA, 2008: 27).
A Terra das Atalaias Curtas era limitada do lado Poente pelo Rio dos Judeus (Oued Lihoud), e do lado Sul pelo antigo Rio Açuani (Oued Es-Souani), limite que correspondia sensivelmente ao actual traçado das avenidas Anfa, Hafid Ibn Abdelbar, Moulay Youssef e Idriss I, a uma distância média de um quilómetro e meio da muralha da cidade ou mil metros do valo.
Dividia-se em Terços, designação dada às unidades militares do exército português e espanhol entre os séculos XVI e XVII, constituindo zonas defensivas com organização militar independente. Esta denominação está patente no texto de D. Fernando de Meneses, que refere “os quatro terços em que se divide o campo” (MENESES, 1732: 39). O primeiro, partindo de Norte para Sul, era denominado Terço da Serra, dos Pomares, da Eira ou da Terra; o segundo designava-se Terço da Atalaínha; o terceiro Terço do Meio; e o último Terço da Praia ou do Xarfe.
Gravura de Tânger em 1572, in “Civitates Orbis Terrarum” de Braun e Hogenberg, Biblioteca Nacional de Portugal
Na gravura de Braun e Hogenberg estão representadas diversas torres de vigia na zona dos Pomares, actual Marchane, entre as quais o Facho e a Torre do Sino da Alcáçova ou Castelo de Cima. Esta última cumpria a função de torre de menagem, que comunicava com o Facho, recebendo informações do campo exterior e transmitindo-lhe as ordens do governador da cidade.
As Atalaias ou Fachos não eram uma linha de defesa da cidade, mas um sistema de vigilância do campo exterior consolidado, baseado nas colinas envolventes ou em torres construídas. Os terços da Terra das Atalaias Curtas eram vigiados por vários fachos. O Terço da Serra era vigiado pelo Facho Novo, o Terço da Atalaínha pelo Facho da Atalaínha, o Terço do Meio pelo Facho do Meio e o Terço do Xarfe ou da Praia pelo Facho do Xarfe:
“Fora dos valos em um monte de área há outros três fachos (para além da Torre do Castelo) que assistem dois facheiros quando se vai ao campo, e servem de dar rebate à Torre, e sinal da parte de que saem os Mouros, respondendo os três fachos aos três terços do campo Atalaínha, Meio e Xarfe. O dos Pomares governa outro facho que chamam Novo por diferença do Velho, que fica mais distante, e por este respeito se largou. A obrigação dos Atalaias é descobrir os quatro terços, em que de mar a mar se divide o campo.” (MENESES, 1732: 41)
A Terra das Atalaias Longas de Tânger
A Terra das Atalaias Longas, definidora do Campo de Tânger, teria em média uma légua de raio, ou cerca de seis quilómetros. A vigilância da terra das atalaias longas era realizada por pares de cavaleiros que seguiam os procedimentos inscritos no Regimento de Braz Fernandes Couto, um verdadeiro regulamento dos procedimentos diários para garantir a segurança do campo (MENESES, 1732: 284-295).
Vista actual de Tânger a partir de Benamagras
Algumas colinas e torres tinham uma função muito importante no quadro das atalaias longas como o Xarfe, a mais importante e que domina a paisagem da baía de Tânger, a de Tânger o Velho, a Colina de Magoga, a de Benamaqueda e a Lomba do Adaíl. O seu papel era fundamental, já que quanto mais cedo fosse detectado qualquer movimento inimigo, em maior segurança se fazia a evacuação do campo. Próximo do mar, ao longo da costa, várias torres de vigia foram construídas, não apenas para vigiar o tráfego marítimo, mas também para proteger a actividade da pesca dos tangerinos, entre a denominada Almadrava e Alcácer Ceguer, como a Torre de Almargem, a Torre do Tom ou de Gandori, ou a Torre de Almenar.
As torres de vigia do Estreito de Gibraltar
A actividade dos almogávares tangerinos tinha uma importância fundamental, já que o roubo de gado e de produtos agrícolas nas aldeias vizinhas permitia minimizar as faltas da produção local. O regresso das saídas era normalmente difícil, já que as tropas carregadas do produto dos roubos eram constantemente atacadas pelos mouros.
Como em Arzila, os marroquinos das aldeias vizinhas criaram também um sistema de vigilância semelhante, como refere Carlos Gozalbes Cravioto:
“As razias lusitanas sobre as aldeias de região, obrigaram os muçulmanos a montar um sistema de vigilância em torres ou lugares de boa visibilidade, para avisar com tempo as aldeias dos ataques portugueses.” (GOZALBES CRAVIOTO, 1980: 181)
Gravura de Tânger de Wenceslaus Hollar, 1670. Prospect of lower part of Tangier. The Wenceslaus Hollar Collection, University of Toronto
Como conclusão, podemos afirmar que algumas evidências do Campo Exterior de Tânger parecem persistir na cidade actual, apesar do facto de que durante a ocupação inglesa a sua estrutura ter sido abandonada, como demonstram as gravuras de Wenceslas Hollar dos meados do século XVII. Essas evidências, poderão estar associadas ao traçado do conjunto das Rue Anual, Rue de Belgique e Avenue Hassan II, e pela configuração da Place du 9 Avril e dos antigos caminhos de acesso a Tânger, como a Rue de San Francisco e a Avenue d’Angleterre.
Pescadores junto ao Baluarte do Anjo em Mazagão
O campo exterior de Mazagão
Em Mazagão, a actividade agrícola era extremamente incerta, já que os cavaleiros marroquinos destruíam frequentemente as culturas plantadas, fossem hortas, árvores de frutos ou pastagens, e inquinavam os poucos poços existentes no exterior com animais mortos.
Jean Mocquet, farmacêutico do Rei Henrique IV de França que visitou Mazagão no século XVII, refere a este propósito:
“Mazagão é uma fortaleza, tendo cerca de meia légua de perímetro, e é habitada por gentes de guerra que têm cada um a sua porção de terreno nos arredores da cidade, onde semeiam cevada, trigo, ervilhas, favas e outros grãos: mas os Mouros muitas vezes lhes vêm tudo cortar e estragar durante a noite. O resto do campo é inculto. Os Mouros fazem-lhes mil maldades, até lhes envenenar um poço que está fora da cidade, numa horta, e nele deitam carcaças de animais e outras vilanias. Na cidade eles têm uma cisterna coberta, em relação à qual se faz vigilância; é muito alta e larga, e capaz de mais de 20 mil pipas de água.” (MOCQUET, 1617: 57)
Sem um sistema de vigilância eficaz, a actividade no exterior da Cidadela ficaria reduzida à recolha de lenha, apanha de tâmaras e de forragem para o gado, à apanha de caracóis e produção de mel nos telhados das casas, à caça e à pesca.
Curral de pesqueira existente em El Jadida, fotografado entre a maré cheia e a maré vazia
Os Mazaganistas utilizavam um processo de pesca engenhoso, que realizavam nos laredos situados à volta da Cidadela, baseado na construção de muros de pedra formando uma espécie de meias-luas ou de forma rectilínea, os currais, que ficavam cobertos pela água do mar na maré cheia. Tendo em conta que a descida da água quando a maré vazava era extremamente rápida, devido à pouca inclinação dos laredos, o peixe ficava retido dentro desses muretes e era então capturado. Chamava-se a essa técnica pesqueira. Ainda hoje é realizada em El Jadida e na região de Casablanca com o nome bouskeda ou bouskira, sendo óbvia a origem portuguesa do termo.
À semelhança das restantes praças-fortes, Mazagão dispunha de um campo exterior estruturado e organizado com defesas de carácter precário, os valos e as tranqueiras, vigiado por atalaias, combinadas com procedimentos rotineiros de vigilância e um sistema ofensivo, preventivo de ataques vindos do exterior. (LUÍS, 1849-1850: 183)
O Campo Exterior Consolidado de Mazagão
O Campo Exterior Consolidado, com área de 38 hectares e um perímetro de 2.250 metros, prolongava-se para o interior do território cerca de 600 metros. Era encerrado e estruturado por valos, que formavam ruas barricadas em pontos estratégicos por tranqueiras. As entradas no campo dispunham de revelins em terra. O campo organizava-se num esquema de talhões bem delimitados e de traçado regular, e era vigiado continuamente, inclusivamente durante a noite, fazendo-se saídas nocturnas da Cidadela para defender as colheitas aí plantadas, chegando alguns moradores a dormir fora de portas para esse fim.
Planta da Praça de Mazagão em 1727 de João Thomás Correa, in Livro de várias plantas deste Reino e de Castela, 1699-1743, Biblioteca Nacional de Portugal
A Planta de Mazagão de 1727 de João Thomás Correa desenha os elementos principais do campo exterior, incluindo a esplanada de protecção às muralhas da cidadela, o traçado dos valos e caminhos que definem, e a localização do poço do Duque situado no Campo da Vinha do Forno. Os limites Norte e Sul do campo são desenhados a partir dos ângulos da esplanada, fazendo coincidir a largura do campo exterior com a largura da própria cidadela. O seu traçado é muito regular, podendo corresponder a um desenho mais teórico do que real.
Disposição das tropas do Rei Sidi Mohamed no cerco a Mazagão de 1769, Casa de Ínsua
A Planta da Casa de Ínsua apresenta o campo exterior consolidado com uma dimensão diferente. O limite Sul não coincide com o da planta anterior, abarcando uma área maior, e do lado Norte o parcelamento extende-se até ao mar, apesar de se representar um valo coincidente com o limite Norte da dita planta anterior, podendo corresponder a uma ampliação do seu desenho original. Para além disso, no seu vértice Sudoeste observa-se uma área que extravasa o rectangulo original, que é acompanhada pelo prolongamento do valo Sul, situação interessante porque coincide com a área da primeira expansão extramuros da cidadela. Representando a cidadelo e o campo exterior em 1769, foi desenhada posteriormente, pelo que não corresponde a um levantamento realizado no local.
Estudo da táctica à Vauban durante o cerco de 1769, Casa de Ínsua
Na Perspectiva da Casa de Ínsua os elementos referidos anteriormente são confirmados. Apesar de ser uma gravura sobre o cerco de 1769, não se desenham as estruturas do exército marroquino e a representação dos dois exércitos e sua posição no terreno é notoriamente simbólica, já que não existem notícias de qualquer confronto militar fora da cidadela. É especificada a utilização dos talhões do campo exterior em termos das culturas que neles eram desenvolvidas. Pela mesma razão referida para a planta anterior, a gravura corresponde a uma delimitação teórica do campo exterior.
Gravura de Mazagão de Peter Haas, incluída na obra Efterretninger om Marokos og Fes [1779] de Georg Horst, Conselheiro de Justiça de Sua Majestade Real da Dinamarca e Vice-cônsul dinamarquês em Mogador, publicada por N. Moller, Copenhaga, reeditada na obra Relations sur les Royaumes de Marrakech et Fès, recueilles dans ces pays de 1760 à 1768, (2002) Éditions La Porte, Rabat
A gravura de Peter Haas de 1777, que representa o cerco de Mazagão de 1769, também delimita o campo exterior da praça, retomando os limites da planta de João Thomãs Correa. É notória a representação do eixo estruturador central e da posição da porta da cidadela, que o define. A gravura representa também as colinas situadas a Sul da Cidadela, onde se localizavam os fachos.
Planta de Mazagão de 1802, desenhada por Ignacio António da Silva, Biblioteca Nacional de Portugal
A Planta de 1802 de Ignacio António da Silva dá uma ideia mais abrangente do campo exterior e dos seus elementos, mas desproporcionada e sobrepondo-lhes as estruturas do cerco de Sidi Mohamed Ben Abdallah de 1769, com os seus redutos, trincheiras e aproches, o que cria alguma confusão para a definição do campo exterior em si. Nesta planta a versão do campo exterior mais alargado é considerada, com a sua expansão Norte e com o traçado do valo Sul não coincidente com o limite da cidadela. O desenho localiza o poço do Duque, a pedreira e o Lago do Sapal. Sendo uma planta de 1802 foi também desenhada de memória.
As descrições da época dão-nos uma grande quantidade de nomes de elementos do campo exterior consolidado, como valos, tranqueiras e outros, como o Valo de Lázaro Fernandes, o Valo Novo, o Valo da Terra de Nossa Senhora, o Valo do Sapal ou Costa da Vila, o Muro da Beringela, o Muro da Baleia, a Tranqueira da Pedreira, a Tranqueirinha, a Tranqueira dos Valos Pequenos, a Tranqueira do Meio, a Tranqueira do Valo Novo, a Tranqueira Queimada, a Tranqueira de Gonçalo Barreto, a Tranqueira dos Paus, a Rua da Pesqueira, a Rua do Forno de Alagoa, a Vinha do Poço, o Revelim Grande, o Revelim de Santo António e o Revelim da Cruz.
No Campo Exterior existia um poço, chamado Poço do Duque, que tinha “tanta água e tão à flor da terra, que bem se lhe pode chamar fonte” (COUTINHO, 1629: 5). O poço encontrava-se associado a uma “bomba” ou picota e a sua água era encaminhada para a Cidadela através de um cano.
O excesso de ocupação do campo exterior com estruturas para a delimitação das hortas, chegou a tal ponto, que o Rei ordenou em 1621 o derrube de muitas delas, já que perturbavam a própria defesa da praça:
“Sou informado que, de alguns anos a esta parte, junto aos muros da Vila de Mazagão, e no contorno dela, assim dentro dos revelins, como fora deles, se fizeram e plantaram muitas quintas e hortas, cercadas de valados e paredes altas e taipa e de pedra e barro, e pedra e cal; dentro das quais quintas e hortas, os mouros, quando correm àquela fortaleza, se recolhem e amparam, ficando seguros, para se avizinharem mais ao muro. Mandava o Rei, pelos seus oficiais, que se derrubassem todas as hortas e quintas, para que se deixassem os revelins cumprir a sua missão de defesa.” (FARINHA, 1970: 50-51)
A este Campo Exterior Consolidado deve ser acrescentada uma outra zona protegida por um longo muro, do lado Norte, aumentando o terreno exterior organizado para uma superfície total de 72 hectares. Esta área teria sido uma ampliação do campo exterior por necessidade de mais terrenos para cultivo.
Área total estruturada com valos
Joseph Goulven refere também vários topónimos e designações de valos, tranqueiras e atalaias, como a Tranqueira Nova, a tranqueira do Buraco, a Tranqueira da Pesqueira, a Tranqueira do Poço do Duque, a Tranqueira do Sapal ou a Tranqueira da Alagoa, o Reduto da Cruz, o Reduto da Bomba ou o Reduto do Canto do Frade, o Valo de Retamal, o Valo da Terra de N. Senhora ou o Valo da Travessa do Forno, o Campo do Facho, o Campo de S. João ou o Campo das Areias, a Atalaia da Cadeira, a Atalaia do Barreiro, a Atalaia do Leão, a Atalaia das Taipas ou a Atalaia da Unha do Forno, e alguns aduares ou aldeias dos Mouros, como Rotameira, Mazagão Velho, Boa-Fé ou Mogomil. Goulven conclui a sua referência aos topónimos, com a seguinte conclusão: “Mas aqui mais uma vez as identificações são quase impossíveis de fazer, na ausência de documentos precisos da época; a topografia dos lugares mudou tanto desde então!” (GOULVEN, 1917: 151-154).
Terra das Atalaias Curtas de Mazagão
O Campo Exterior Consolidado era vigiado pela Terra das Atalaias Curtas (SOUSA, 1844: 364), distando em média cerca de um quilómetro e meio das muralhas da Cidadela, dispondo de vários fachos, como o Facho, a atalaia-mãe, o Facho do Forno, o Fachinho, o Facho de Masmoras e o Facho de Alagoa. As referências aos fachos estão sobretudo indicadas na planta de Simão Correa Mesquita de 1752 e na Perspectiva de Mazagão do Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar, que apesar de desproporcionada e orientada incorrectamente, dá pistas sobre a designação de alguns dos fachos e sobre o traçado do valo Sul, ou Costa da Vila, que confirma não ser coincidente com o vértice da cidadela. Uma referência à principal área exterior à “terra dos fachos”, nesta perspectiva representada, o Rotamal, da qual mais adiante se fala.
Perspectiva cavaleira de Mazagão, Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenheria Militar- Direcção dos Serviços de Engenharia
A Terra das Atalaias Curtas era a zona onde se praticava a caça, a pastagem do gado e a recolha de lenha. Nesta área são de referir dois locais como relevantes: a Pedreira, da qual foi extraída a pedra para construir a Cidadela, e o Facho de Masmoras, junto ao qual se situavam vários silos subterrâneos para guardar cereais (DERIF, 2016: obra citada), conforme a sua designação indica (do Árabe mtamara ou celeiro enterrado).
A Terra das Atalaias Longas de Mazagão
A Terra das Atalaias Longas correspondia aproximadamente aos limites do Plan d’Aménagement et d’Extension de la Ville de Mazagan de 1916, a uma distância máxima de sete quilómetros em direcção à cidade de Azamor. As atalaias vigiavam esta zona segundo procedimentos rígidos, como refere Jean Mocquet:
“Todos os dias de manhã saem de Mazagão cerca de 40 de cavalo que vão descobrir o campo e nele ficam até o meio-dia; e depois desta hora saem outros 40 que só voltam à tardinha. Seis deles, chamados atalaias, tomam lugar em postos afastados e ficam de vigia; e, se eles descobrem qualquer coisa de suspeito, recuam rapidamente e, visto este movimento da vigia da povoação, dá logo duas ou três badaladas, ao mesmo tempo que os outros de cavalo correm na direcção da atalaia em perigo. Para dar sinal à Praça há em todos os lugares, onde as atalaias se postam, um grande pau de madeira de mastro, ao alto do qual içam com uma corda uma espécie de bandeira, que é o aviso para os moradores se armarem.” (MOCQUET 1617: 56)
Ville de Mazagan. Plan d’aménagement et d’extension approuvé le 24 novembre 1916, desenho 1. Bibliothèque Nationale de France
A Planta de Simão Correia Mesquita de 1752 traça uma zona de vigilância alargada que se estende ao longo da Praia de Haouzia desde a Cidadela de Mazagão até Mazagão Velho, constituída por uma planície central chamada Rotamal, designação que terá origem no nome latim do Piorno Branco (Retama Monosperma), espécie vegetal que abundava densamente nessa planície, que em Árabe se chama Rtama (DERIF, 2016: obra citada). Flanqueando o Rotamal do lado Sul situavam-se uma série de colinas onde se posicionavam os cavaleiros portugueses durante o dia. O campo exterior delimitado por valos á representado de forma pouco precisa.
Planta de Simão Correa Mesquita de 1752 in Relação do Choque que Tiveram os Cavaleiros da Praça de Mazagão com os Mouros de Aducala e Azamor em 7 de Dezembro de 1751, Jozé da Sylva Natividade, Lisboa, 1752
Simão Correia Mesquita dá-nos informações preciosas sobre as atalaias longas e a toponímia dos arredores da praça, já que representa os acidentes topográficos e respectiva designação no tempo da ocupação portuguesa. Assinalamos a Atalaia do Palmeirinho, a Atalaia do Ribeirão, a Atalaia do Caminho Duro, a Atalaia de Matamorras, a Atalaia do Barreiro, a Atalaia de Pedralvinho, a Torre e a Guarita de Mazagão Velho.
Relativamente aos lugares referenciados nos documentos consultados, assinalamos, entre outros, o Campo do Facho, o Sítio da Coitada, o Sítio da Unha do Forno, as Covas da Areia (S. LUIS, 1849-1850: 183-193), o Campo da Rochinha, o Sítio das Areias, vizinho aos valos, o Campo de Mazagão Velho (CONCEIÇÃO, 1823: 117), a Planície de Lázaro Fernandes, o Barreiro, as Portelas, a Cova (CORREA, 1763: obra citada), o Lugar dos Medos (AMARAL, 1989: obra citada), o Campo das Areias, os Vales da Quinta, o Vale de Maio, a Pesqueira (GORJÃO-HENRIQUES, 2010: 209-210), o Campo do Leão (SOUSA, 1844: 364-367), o Facho da Coutada, a Boca da Rochinha, o Fachinho, o Morro Ruivo, Mogomil, o Cantinho, Bofé ou Boa-Fé, o Barreiro, “sítio eminente de onde se descobre bem a Fortaleza” (COUTINHO, 1629: obra citada), o Cotovelo, a Alagoinha, a Ducala, as Areias, o Tezo do Gral, o Corvo, o Barreiro, Matamoras, o Morro Galego, Mazagão Velho, Domingos Afonso, o Palmito, a Lomba, Mançor, o Chão de Freitas, Lázaro Fernandes, o Morreto da Figueira, e o Caminho Duro (MESQUITA, 1752: obra citada).
Combate durante o Cerco de Mazagão. Desenho à pena do Cavaleiro Faria, datado de 1770
Os homens que faziam serviço no exterior da praça eram geralmente degredados, condenados que expiavam os seus crimes nos territórios do Além-Mar. O degredo era um destino comum para os condenados portugueses, já que constituía uma solução muito conveniente para o Estado, que os afastava da sociedade e não acarretava custos para os cofres públicos, tendo em conta que os degredados tinham que encontrar meios de subsistência. Os condenados podiam escolher o destino do seu degredo, fosse o Algarve, Marrocos ou o hemisfério Sul, como Angola ou o Brasil. Uma pena cumprida no Algarve não era reduzida, mas se fosse cumprida em Marrocos era reduzida para metade e no hemisfério Sul para um quarto. Como regra geral os degredados que escolhiam Angola ou o Brasil nunca regressavam, fosse por morte prematura, fosse por se estabelecerem na colónia em definitivo, muitos escolhiam Marrocos, nomeadamente Mazagão. O ingresso como atalaias ou batedores no campo exterior era normalmente a única forma que tinham de ganhar algum dinheiro, já que era uma actividade muito arriscada e bem paga. (AMARAL, 1989: obra citada)
A eficácia do sistema defensivo exterior de Mazagão está patente neste excerto do texto de D. Gonçalo Coutinho:
“O campo é, sem contradição, o mais claro de nossas fronteiras, e tão seguro, depois de descoberto, que não havendo desmandados, que queiram romper as Atalaias, o podem lograr mulheres, e meninos, sem nenhum perigo.” (COUTINHO, 1629: 4)
Ville de Mazagan. Plan d’aménagement et d’extension approuvé le 24 novembre 1916, desenho 2. Bibliothèque Nationale de France
As plantas de 1916 dão-nos informações preciosas sobre a primeira expansão extramuros da Cidadela de Mazagão, que ocorreu logo após a partida dos portugueses em 1769.
Com a saída dos portugueses, iniciou-se um período de cerca de 50 anos em que ficou abandonada, já que a população local se recusou a viver na “cidade dos cristãos”, sendo ocupada de novo nos meados do século XIX por judeus vindos de Azamor. Por esse motivo a cidadela ficou conhecida nesse período como El Mahdouma ou “a destruída”, e hoje é chamada o Mellah de El Jadida, ou Bairro Judeu da cidade. Os autóctones estabeleceram-se assim na área extramuralhas correspondente ao chamado Campo Exterior Consolidado, aproveitando as estruturas criadas pelos portugueses, os materiais aí existentes e o desenho dos caminhos, limites e, presumivelmente, do próprio parcelamento.
Através da correspondência entre a área de expansão extramuros de El Jadida patente nessas plantas e as plantas e gravuras antigas constatamos que os elementos construídos precários implantados pelos portugueses perduraram na definição da dessa mesma expansão. Nos desenhos seguintes estabelece-se uma relação entre as evidências do Campo Exterior Consolidado na estrutura urbana de El Jadida, mapeadas na fotografia aérea actual, e a referenciação dessas evidências na cartografia e gravuras antigas existentes.
Evidências do Campo Exterior Consolidado na estrutura urbana de El Jadida
Referenciação das evidências na cartografia e gravuras existentes
Como conclusão, podemos afirmar que o campo exterior de Mazagão deixou marcas claras na Cidade de El Jadida, que se constatam pela coincidência entre os principais valos e caminhos com importantes eixos viários, como o Valo Norte com a Avenue Moulay Smail e Rue Haj Ahmed Lahlali, o Valo Sul com a Avenue Hassan II, o Valo Poente com a Avenue Pasteur, o Valo Norte secundário com a Rue de France, o Eixo Estruturador do Campo Exterior Consolidado com a Avenue Zerktouny e o caminho para Azamor com a Avenue Mohamed V. Para além destes elementos, é interessante verificar que o próprio Campo Exterior Consolidado é hoje uma área urbana homogénea, composta pelos bairros Kalaa e Derb El Hajjar, que corresponde à primeira expansão extramuralhas de El Jadida processada durante o século XIX.
A frente de mar de Arzila vista da Couraça
Nota final
Os mecanismos de sobrevivência baseados nas obras de fortificação e na estruturação urbanística asseguravam a inviolabilidade dos perímetros muralhados, mas não eram por si só suficientes para garantir a autonomia das praças nem a capacidade de gerir os terrenos circundantes. A forma engenhosa como os portugueses faziam a gestão do campo exterior permitiu-lhes usufruir da uma agricultura fora de portas, da caça e da pesca, da recolha de lenha e da fuga à sensação de encarceramento, minimizando os meios necessários para tal e tirando o máximo partido das suas vantagens. O sistema, baseado em elementos construídos precários e procedimentos rotineiros, exigia uma organização rigorosa que mobilizava os chamados homens do campo e a população.
Robert Ricard atribui a este sistema o sucesso da longevidade da ocupação portuguesa de Ceuta, Tânger e Mazagão, afirmando:
“Os Portugueses praticavam toda uma técnica que corrigia em parte os inconvenientes da ocupação confinada. Esta técnica consistia de um sistema complexo de vigias, sentinelas e batedores, que permitiam organizar a segurança dos arredores da praça durante parte do dia; esta operação chamava-se segurar o campo e, quando estava realizada, dizia-se que o campo estava seguro. Graças a esta organização, era possível assegurar o abastecimento da cidade, particularmente em água, madeira e forragem, e a liberdade da caça e da pastagem, sem ocupar propriamente o território, e consequentemente sem despender o esforço militar e financeiro que implica uma ocupação propriamente dita.” (RICARD, 1933: 448-449)
Apesar do seu caracter precário e efémero, os elementos construídos que estruturavam o campo exterior deixaram cicatrizes nas cidades actuais de Asilah, Tanger e El Jadida, e influenciaram o traçado de alguns eixos viários, limites e áreas homogéneas, de forma mais ou menos evidente, demonstrando que constituíram elementos da génese da própria expansão das cidades modernas.
Nota: Este artigo foi redigido com base na comunicação apresentada nas XXIII Jornadas de História de Ceuta no dia 6 de Outubro de 2020 e na sua publicação nas respectivas Actas.
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