7 comments on “A Muralha Portuguesa de Tânger

  1. Viva, só hoje descobri este seu excelente site, já com um passado histórico considerável (perdoe-me a laracha — palavra que por sua vez remete a Larache?… enfim, já não digo nada), ao ponto de «parecer mal» ter a lata de só hoje vir a dar-lhe os parabéns pelo excelente trabalho de investigação histórica que tem vindo a desenvolver — «apenas como amador», como salienta tantas vezes ao longo do site. Amador ou profissional, passei hoje uma parte do dia a ler (de forma mais ou menos aleatória) uma série de artigos seus, embora motivado por o que me parecia ser algo de mais simples: tentar descobrir a origem do nome da cidade de Odivelas

    Graças a estas explicações suas, fiquei a perceber que aquilo que já conhecia da presença portuguesa na Índia — essencialmente, um complexo sistema diplomático, jogando umas facções contra as outras, e a utilização de engenharia militar muito sofisticada aliada a um apoio naval que, na altura, possuía tecnologia muito superior à das restantes nações — teve um «ensaio geral» em Marrocos, quase um século antes. Não admira, pois, que Afonso de Albuquerque tivesse à sua disposição um longo conhecimento de como estabelecer bases mesmo no centro de uma civilização cultural e tecnologicamente bastante superior à nossa: o «truque» era apostar em 2 ou 3 vantagens tecnológicas e de resto usar muita, muita diplomacia. Foi um copy & paste da «estratégia vencedora» em Marrocos… apesar da distância muito mais vasta dificultar certas dificuldades logísticas, claro está. Mas houve muito tempo para aperfeiçoar esta logística…

    Quando se lê na historiografia mainstream que um punhado de portugueses colocava os pés em África (ou depois, mais tarde, na Índia) e conquistava vastas cidades, parecia-me sempre um enorme exagero (típico dos vencedores, que escrevem a história). A versão histórica do aperfeiçoamento tecnológico (neste artigo, o das fortalezas constantemente em upgrade para lidarem com alterações no armamento utilizado pelo inimigo…) e o recurso incansável à complexa diplomacia dá uma explicação muito mais satisfatória de uma realidade que assim parece bastante mais plausível…

    Continue o excelente trabalho!

    • Caro Luís Miguel Sequeira
      “Amador” foi um termo que utilizei muito nos meus primeiros escritos e basicamente tinha a ver com o facto de não ter um diploma em História, situação que me parece hoje irrelevante, tendo em conta a investigação que fiz e os trabalhos que publiquei (online, editorial e em conferências/formações).
      Concordo que para “conquistar meio mundo” é necessário ter uma estratégia muito bem definida e sobretudo inteligente. Baseada, como diz, numa diplomacia forte, numa arquitectura militar muito eficiente e numa capacidade de solucionar os problemas logísticos não só pela via diplomática, como pelo “engenho”.
      No entanto, em Marrocos, o sucesso Português dependeu em muito do momento de falta de unidade política que o país atravessava. Foi notória a inviabilidade da política expansionista quando os Sádidas unificaram Marrocos e se apetrecharam com meios militares de última geração forneccidos pelos Turcos.
      Aliás, vários dos autores portugueses, sobretudo David Lopes, traduzem bem na sua obra o facto de que um Reino Português em Marrocos era um sonho irrealizável, como o tempo se encarregaria de mostrar rapidamente. Algumas frases de David Lopes: “Um reino português em Marrocos era sonho irrealizável com os nossos parcos recursos em gente e dinheiro” (…) “Não vemos assim D. Henrique fechar os olhos às realidades e querer conquistar um país que Portugal, de pouca população e pobre, não podia abarcar. Um realista que ele sempre se revelou não podia ter tão estulta pretensão; e se algum dia teve esse sonho, filho da inexperiência primeira, deve ter acordado dele quando o mar imenso se começou a abrir diante das suas caravelas. Os perigos eram aí, afinal, menores e as vantagens maiores” (…) “O infante enganou-se nesta ideia de fazer de Marrocos um Portugal dalém mar. Portugal não tinha forças nem recursos para tamanha empresa” (…) “Criar um outro Portugal em Marrocos era um pensamento irrealizável, que espírito prático, realista, como o seu, não podia ter. A população do reino do tempo da ida a Ceuta não devia passar de um milhão, segundo nos parece. Por outro lado, Marrocos era país bastante densamente povoado, (…) muito extenso, de população aguerrida, e de religião estimuladora de heroísmo. Sendo assim, como podia o espírito perspicaz do infante enganar-se tão grosseiramente e nutrir um propósito tão incongruente? É certo que se quis realizar em 1578, mas D. Sebastião era criança e desatinado”.
      Obrigado e cumprimentos

  2. Pingback: Tânger portuguesa | Histórias de Portugal em Marrocos

  3. Mendes Paula. Mais um Trabalho de Pesquisa de grande Nivel.. Os Portuguese ainda têm que aprender muito da historia de Portugal

    • É verdade que sim, há muita história verdadeira de Portugal, e não só, não ensinada sequer nos manuais escolares e muitos professores de história et alii que a desconhecem igualmente . Fica para quem aqui chega o gosto da descoberta tão interessante da aventura e garra de um povo que foi valente, embora os erros de outra ordem cometidos.
      …e Marrocos e sua história e sua cultura sempre presente neste site em tantas facetas, encantos e fascínio que nos faz percorrer e esquecer o tempo e outros que-fazeres.
      Pela excelência do seu saber e forma de divulgação, o felicito ainda e sempre, Arquitecto Frederico Mendes Paula.

      • Agradeço as suas palavras, Isabel Falcão. Parece impensável nos tempos que correm verificar que os manuais escolares continuam a ser um veículo de transmissão de uma História que teima em não contar a verdade e em alimentar falsos ideais, em vez de contribuir para uma outra forma de aceitar as diferenças e de encarar o passado com as suas boas e más coisas. Em relação a Marrocos, país nosso vizinho e com o qual partilhamos um passado e factores identitários muitíssimo significativos, a ignorância da generalidade das pessoas é confrangedora, incluindo, como diz, de muitos dos responsáveis pelo ensino.

    • Obrigado, Boaventura Nogueira. De facto existe uma grande parte do nosso passado que continua obscuro para a maior parte das pessoas

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