A Porta da Vila da Cidadela de Mazagão
“Não havia espaço que não estivesse cheio de recordações: uma pedra, a esquina de uma rua, um largo. Os Mazaganistas formavam um corpo com seus muros. Defendê-los era a sua razão de viver e de esperar. Muitos deles não imaginavam qualquer destino fora dos muros da fortaleza.” (VIDAL, [2005] 2008, p. 51)
No ano de 1541, no seguimento da tomada de Santa Cruz do Cabo Guer pelo Xerife Mohamed Ech-Cheikh, Portugal decide reformular a sua filosofia de ocupação da costa do chamado Marrocos Amarelo, concentrando forças numa fortificação inexpugnável, construída de raiz segundo os princípios mais avançados da arquitectura militar do Renascimento. Essa fortificação, a Cidadela de Mazazão manteve-se inviolada em mãos portuguesas até 1769, data em que um cerco realizado pelo Sultão Sidi Mohamed Ben Abdellah obrigou à sua evacuação, sendo os seus habitantes transferidos para a Amazónia, onde fundaram a cidade de Vila Nova de Mazagão.
Os Mazaganistas, como ficaram conhecidos, foram quatro ou cinco gerações de pessoas que viveram isoladas numa área de meia dúzia de hectares, em permanente sobressalto e de carência de bens de alimentação e condições de conforto, desenvolvendo uma série de subterfúgios para atenuar o tédio e a ansiedade, que caracterizou esta comunidade resistente e guerreira. Continue Reading