A Cisterna Manuelina de Mazagão
“Os nossos lugares em África eram praças de guerra. As suas muralhas conservadas até hoje – na maioria dos casos – atestam a sua solidez. Os seus moradores podiam dormir sossegados. Para as erguer não se pouparam os bons materiais, alguns deles vindos de Portugal, como a pedra de cantaria, a madeira e a cal. Trabalharam nelas os melhores artífices da metrópole e dirigiram-nas os melhores debuxadores e mestres de pedraria do tempo, nacionais ou estrangeiros.” (LOPES, [1937] 1989, p. 41)
Em meados do século XVI estava em marcha um plano de mudança na política portuguesa em relação às praças Norte Africanas. A sua insustentabilidade económica e militar, aliada à perda de valor estratégico que sofrem face ao novo contexto criado com as descobertas na América, Africa e Asia, tornam a sua manutenção nas mãos da coroa portuguesa inviável. Após a queda de Santa Cruz do Cabo Guer em 1541, inicia-se o abandono de algumas das praças, tendo no espaço de nove anos sido evacuadas Safim, Azamor, Arzila, Alcácer-Ceguer e o Castelo de Aguz. No entanto, para além de se manterem as posições estratégicas do estreito, Ceuta e Tânger, a coroa portuguesa decide manter uma presença no chamado Marrocos Amarelo, ordenando a construção de uma grande fortaleza concebida de acordo com os últimos conceitos da arquitectura militar europeia.
Mazagão, considerada a primeira fortaleza da era moderna, onde se puseram em prática as mais avançadas teorias desenvolvidas pelos arquitectos militares italianos do Renascimento, revelar-se-ia um bastião inexpugnável durante os quase 300 anos de permanência portuguesa no local. Continue Reading