inquisição
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Tecto em estilo mudéjar na Casa de Pilatos em Sevilha
“Em 1535, exagerando nas cores, o humanista flamengo Nicolau Clenardo registava a importância e a concomitância da escravidão moura e negro-africana: Os escravos pululam por toda a parte. Todo o serviço é feito por negros e mouros cativos. Portugal está a abarrotar com essa raça de gente. Estou quase em crer que só em Lisboa há mais escravos e escravas que portugueses de condição.” (MAESTRI, 2006, p. 105)
A afirmação de Clenardo, apesar de exagerada, já que se estima que a população escrava na Lisboa quinhentista seria de cerca de 10% do total de habitantes, retrata bem o peso que escravatura tinha na sociedade portuguesa da época. Iniciada com a escravidão dos antigos mudéjares, tornados mouriscos com a obrigatoriedade de conversão ao cristianismo, alargada com os milhares de mouros cativos escravizados nos campos de Marrocos e na guerra do corso, e finalmente ampliada aos habitantes da Africa subsariana, o negócio da escravatura torna-se uma imagem de marca de Portugal nos primórdios da expansão em Africa.
Mouros ou Mouros Cativos, assim se chamavam os escravos, e daí a expressão trabalhar como um Mouro. Eram Mouros Negros ou Mouros Pretos, conforme fossem originários do Norte de Africa ou da Africa Subsariana. Continue Reading
Corsários de Salé numa foto de 1944
Após a conquista cristã do Al-Andalus, as condições de vida dos muçulmanos tornam-se progressivamente cada vez mais difíceis, perdendo todos os seus direitos e liberdades, culminando com as perseguições, as conversões forçadas e as expulsões.
“Não há dúvida que os muçulmanos capitularam, mas muitos deles permaneceram no território, constituindo uma comunidade numerosa e resistente. Apesar dos esforços dos cristãos, continuam profundamente ligados ao Islão.” (VINCENT, 1981, 0bra citada)
As condições duríssimas em que os mouriscos resistem e a própria fatalidade que marca o seu destino, originam que a sua resistência tenha um carácter extremamente clandestino e desesperado, marcado pelo ambiente de terror em que viviam.
Muitos deles, os que optam pela luta armada contra os cristãos, aderem ao chamado “bandoleirismo mourisco”, de carácter violento e marginal, organizando-se em três grupos distintos _ Corsários, Mânfios e Gandulos. Continue Reading
O baptismo das mouriscas. Baixo-relevo do altar-mor da Capela Real de Granada
Durante o período da conquista cristã do Al-Andalus surge um grupo social denominado Mudéjares, designação proveniente do Árabe Mudajjan ou Domesticados, constituído pelos muçulmanos que conservam a sua religião mas que, progressivamente, adoptam os hábitos e a língua dos cristãos. Nas cidades perdem o direito a viver nos núcleos muralhados, sendo transferidos para os arrabaldes, para bairros que tomam o nome de Mourarias. São tratados como cidadãos de segunda, apesar de lhes ser reconhecida a sua identidade cultural e religiosa.
No século XVI os Mudéjares são forçados à conversão ao Cristianismo, e à adopção obrigatória da língua e costumes dos cristãos, incluindo a forma de vestir, passando a ser denominados Mouriscos. Muitos aceitam a conversão forçada, não por fé no Cristianismo, mas apenas para poderem viver na sua terra e manter os seus bens, já que a não conversão obrigava à sua expulsão da Península Ibérica. Convertem-se, mas apenas na aparência, já que mantêm a sua fé no Islão, os seus hábitos e costumes. Continue Reading