
Baluarte do Anjo
A Cidadela de Mazagão foi uma fortaleza edificada num período em que a política expansionista em Marrocos se encontrava em fase de reformulação, precipitada pela queda de Santa Cruz do Cabo Guer no ano de 1541. As duas principais praças-fortes do Sul de Marrocos, Safim e Azamor, foram evacuadas, mas a importância geo-estratégica e económica da Duquela levou à tomada de decisão de se construir uma fortificação de raíz, segundo os princípios da moderna arquitectura militar do Renascimento, capaz de assegurar o controlo da região com uma racionalização efectiva de meios.
O local escolhido para a nova fortaleza, que viria tipologicamente a ser uma cidadela ou cidade fortificada, a primeira construída pelos portugueses no Além-Mar, foi onde desembarcaram as tropas do Duque de Bragança em 1513 para conquistar Azamor, e que D. Jaime apelidou de “melhor porto do Mundo” numa carta enviada ao Rei D. João III. (LES SOURCES… 1934, Tomo I: 442)

A Torre Boreja
O Castelo Real de São Jorge de Mazagão
Nesse lugar, um afloramento rochoso situado a poente de um extenso areal, a actual praia de Haouzia, existia um povoado piscatório berbere denominado Mazighan. O topónimo já é citado pelo geógrafo Al-Idrisi no século XI e, segundo alguns autores, significa “pedras de mós” na língua Tamazight. Para outros autores, o termo poderá ter origem na expressão “maa skhoun”, água quente, ou poderá significar “água do céu”, referência às cisternas que aí existiam para captar a água da chuva.
Desde 1486 que é conhecida a presença portuguesa no local, havendo referências a importações de trigo que daí saía para a metrópole. “Numa carta de quitação para Pedro Brandão, receptor dos moinhos de Vale de Zebro (Santarém, 17 de Fevereiro de 1500), são mencionados 695 moios, 45 alqueires, 2 maquias de trigo provenientes da Casa do Cavaleiro e de Mazagão”. (LES SOURCES… 1934, Tomo I: 104)
Duarte Pacheco Pereira confirma essas relações comerciais com Mazagão no Esmeraldo de Situ Orbis, ao escrever que “nesta baía de Mazagão carregam muitas naus destes Reinos, e assim de Castela, de trigo quando cá por nossos pecados Deus não dá”. (PEREIRA, [15–] 1892, Primeiro Livro: 29)
Desde 1502 que os portugueses ocupavam uma torre de vigia chamada El Brija, diminutivo de Borj ou Torre. Nesse ano já existiriam inclusivamente alguns edifícios de campanha em redor da dita torrinha. Pierre de Cénival refere que o português Jorge de Melo, ao ser incumbido por D. Manuel de atacar Targa, foi apanhado por uma tempestade no Estreito de Gibraltar, que o fez acostar a Mazagão. “Os Portugueses, receando um ataque dos indígenas, abrigaram-se num fortim em ruínas e desabitado (Alboreja, El-Bridja, o pequeno forte) que aí se encontrava. Ao fim de algum tempo, Jorge de Melo regressou a Lisboa com a esquadra, prometendo voltar e deixando na torre El-Bridja uma pequena guarnição”. (LES SOURCES… 1934, Tomo I: 104)
Numa carta datada de 21 de (–) de 1505, D. Manuel autoriza Jorge de Melo, capitão dos arcabuzeiros a cavalo, filho do Alcaide de Castelo de Vide e Évora, Vasco Martins de Melo, de construir uma fortaleza em Mazagão “a sua própria custa e despesa, com algumas ajudas que, para isso lhe faremos mais mercê, nos prover de lhe dar”. A utilização da fortaleza teria um carácter hereditário, e seriam sempre salvaguardados os interesses da Coroa no que respeita à sua função de defesa das operações de importação de trigo. (LES SOURCES… 1934, Tomo I: 108-113)
Jorge de Melo nunca construiu a sua fortaleza e a fortificação que Damião de Góis referencia em 1513, ao escrever (quando as tropas de D. Jaime permaneceram em Mazagão três dias após o desembarque para conquistar em Azamor), que “vinham mouros aventureiros dos que estavam em Azamor, de noite dar nas fraldas do nosso campo, de que levavam cavalos, e feriram, e mataram alguns Cristãos que acharam desarmados, sem nunca ousarem de chegar ao forte”, seria certamente a Torre Boreja. (GÓIS, 1566-1567, III Parte, Cap. XLVI, fl. 88)

Da Torre Boreja ao Castelo Real de São Jorge de Mazagão
Menos de um mês após a visita do Duque, “D. Manuel já enviava um superintendente com materiais para as obras – 40 vigas, 440 tábuas e 17 mil pregos – o que sugere uma primeira veloz construção de madeira efémera”. (MOREIRA 2001: 32)
Assim, só em 1513, no seguimento de desembarque no local das tropas comandadas por D. Jaime, foi tomada a decisão de se construir aí um castelo. Nesse mesmo ano era montado um “castelo de pau”, ao redor do qual foi construído um outro de pedra e cal com projecto dos irmãos Diogo e Francisco de Arruda. O castelo, construído em 1514, denominado Castelo Real de São Jorge de Mazagão, dispunha de um fosso com ponte levadiça e era de forma quadrada com 30 varas de lado (33 metros), com quatro torres cilíndricas nos cantos, denominadas Cadeia, Rebate, hoje minarete da mesquita, Cegonha, posteriormente casa do governador, e Boreja, esta última coincidente com a antiga El Brija (actualmente ocupada pelo posto da polícia da Cidadela de Mazagão).
Francisco Danzilho, arquitecto militar biscainho que desde 1511 trabalhava nas fortificações de Alcácer-Ceguer e Arzila, acompanhava o Duque na expedição e fez os primeiros levantamentos e esboços para a construção da dita fortaleza.
A construção do Castelo processou-se com apoio logístico de Azamor e decorreu num período extremamente rápido, já que em Agosto de 1514 estava em funcionamento, conforme se comprova numa carta de D. Manuel a Rui Leite, na qual lhe dá conhecimento do envio das alfaias para a capela do Castelo. (LES SOURCES… 1934, Tomo I: 598-600)
O fosso que rodeava o Castelo demorou mais quatro anos a concretizar, como deu conhecimento António Leite numa carta dirigida ao Rei em 22 de Julho de 1518: “Eu como cheguei aqui fui logo a Azamor buscar gente para esta cava que já faço”. (LES SOURCES… 1939, Tomo II, parte I: 202)
Nos anos seguintes são implantadas várias edificações de madeira de apoio à guarnição militar no pátio central (ou praça de armas), e construídos vários edifícios adoçados aos seus muros, no exterior.

O trigo da Duquela
A fixação dos Portugueses em Mazagão resulta assim do facto de a região da Duquela ser extremamente rica em trigo, do qual Portugal era deficitário, tendo como principal centro de comércio a cidade de Azamor, com a qual havia já laços comerciais importantes, inclusivamente assumindo forma de vassalagem desde o ano de 1486. Mas Azamor era de má barra, ou seja, não dispunha de um porto em condições para acolher os navios portugueses, e Mazagão surge inicialmente como o porto de Azamor e Praça na sua dependência. A esta riqueza em trigo juntava-se o comércio de cavalos e peixe seco ou de salga, para além de uma grande variedade de produtos que contribuíam para o abastecimento dos navios e para o comércio de longa distância, no qual o ouro e os escravos constituíam as maiores riquezas.
Numa carta datada de 20 de Outubro de 1517, António Leite informa o Rei D. Manuel de que o trigo destinado a Azamor era descarregado em Mazagão, pelo facto de os navios não terem acesso a essa cidade: “recolhi aqui de uma nau biscainha cento e cinquenta cafizes de trigo que trazia para aqui e para Azamor, e por ser navio grande o descarreguei aqui, e doutro navio grande que aqui veio ter da Ilha (da Madeira) descarreguei cento e treze moios, por serem navios que corriam muito risco em entrar pela barra”. (LES SOURCES… 1939, Tomo II, parte I: 176)
Ao longo dos anos vai-se formando um pequeno arrabalde do lado Noroeste do castelo, de caracter espontâneo, que lhe dá algum apoio logístico em troca de protecção. Os ataques quase diários a que esse povoado é sujeito obrigam à construção de uma barbacã e fosso, e à constituição de uma força de batedores comandados por um adaíl, que fazia incursões preventivas nas aldeias vizinhas. Apesar de constituir um aglomerado satélite de Azamor, Mazagão depressa se transforma numa autêntica Vila, com cercas para gado e hortas, e dispondo de instalações portuárias que colmatavam as deficiências que a má barra de Azamor comportavam.

Baluarte de São Cristóvão em Azamor
Os irmãos Diogo e Francisco de Arruda
O castelo projectado pelos irmãos Diogo e Francisco de Arruda seguia a tipologia dos castelos portugueses em Marrocos, patente em fortificações isoladas e em castelos urbanos, enquadradas no modelo da arquitectura militar da transição, no qual se adaptavam os princípios arquitectónicos às necessidades de dar resposta à generalização do uso das armas de fogo.
Os irmãos Arruda foram os principais protagonistas desta arquitectura nas praças-fortes do Sul de Marrocos, levando a cabo, no primeiro quartel do século XVI, obras de fundo nas estruturas defensivas das duas cidades ocupadas na região, Azamor e Safim, e na construção de castelos urbanos e satélites das mesmas, o Castelo do Mar de Safim, o Castelo Real de São Jorge de Mazagão e o Castelo de Aguz em Souira Kedima, na foz do Rio Tenerife.
O traço dos inconfundível dos Arruda deixou a sua marca nessas intervenções. A imagem dos baluartes de São Cristóvão e do Raio em Azamor, com as suas aberturas para tiro mergulhante, tão características dessa sua marca, era idêntica à da Torre Boreja do Castelo Real de São Jorge de Mazagão, como testemunha uma fotografia tirada por Joseph Goulven em 1917, antes da sua “reconstrução”.

A Torre Boreja fotografada por Joseph Goulven em 1917
Os Arruda deixaram uma obra notável enquanto expoentes do estilo Manuelino. Diogo teve um percurso mais internacional, trabalhando com Francesco di Giorgio Martini nas muralhas de Nápoles entre 1485 e 1486, onde era conhecido como “Maestro Diego Portoghese” (CORREIA 2017: 152), foi autor do Baluarte do Paço da Ribeira em Lisboa em 1510, e um dos protagonistas da remodelação do Convento de Cristo em Tomar. Francisco deixou como obra principal a Torre de Belém em Lisboa, desenhada em 1514, que, para a generalidade dos autores, constitui a viragem da arquitetura militar para a época moderna, e o Castelo de Torres Vedras dois anos depois. Os dois irmãos projectaram o Castelo de Vila Viçosa em 1520 e o de Evoramonte em 1532.
A chegada dos Arruda a Marrocos remonta ao ano de 1512, quando Diogo foi enviado para trabalhar nas defesas de Safim. No ano seguinte parte para Azamor, onde se encontra com o seu irmão Francisco, que tinha consigo o filho, Miguel, um jovem que se iniciava nas artes da arquitectura militar.

Planta das muralhas de Lagos, de 1553-1554 (1557 papel colado), anónima, desenhada por Miguel de Arruda como projecto para a sua construção. Arquivo Militar de Estocolmo
Miguel de Arruda
Miguel de Arruda iniciou-se com o pai na intervenção nas muralhas de Azamor e na construção do Castelo de Mazagão. Viria a ter um percurso brilhante, sendo um dos principais protagonistas da arquitectura militar do Renascimento ou do abaluartado, quando as fortificações já se encontravam libertas do espartilho medieval e eram concebidas com base nos ângulos de tiro.
Foi arquitecto do Mosteiro da Batalha em 1533 e da Igreja da Graça em Évora em 1540.
No ano de 1541 iniciou um período de intervenções no Além-Mar, em Ceuta, Tânger e Mazagão, seguindo-se a construção das fortalezas de São Sebastião na Ilha de Moçambique e de São Salvador na Baía de Todos os Santos no Brasil em 1546, e de São Jorge da Mina no Gana em 1548. De regresso a Portugal, projectou o Forte do Pinhão em Lagos e o Forte de São Julião da Barra em Lisboa em 1553, e as Muralhas de Lagos em 1554, as primeiras fortificações modernas construídas no País. (MOREIRA 1986: 141 e MOREIRA 2014: 212-214)
Sobre a autoria da Planta da Muralha de Lagos de 1554 existente no Arquivo Militar de Estocolmo, Rafael Moreira afirma “pude verificar que se trata do projeto definitivo de Miguel de Arruda – a sua escrita, facilmente identificável, é impossível de confundir”. (MOREIRA 2014: 213-214)
Após o seu regresso a Portugal foi nomeado “Mestre das obras dos muros e das fortificações do Reino, Lugares d’Além e Índia”.

Gravura de Santa Cruz da Berbéria de 1790 (?), de Martinus Lambrechts, Museu Marítimo Nacional de Amesterdão. Aanzicht van de stad en haven Agadir in Marokko, Lambrechts, Martinus, 1790(?), Afbeelding van St. Cruz in Barbareyen, Nederlands Scheepvaarmuseum Amsterdam
O debate sobre o cerco de Safim e as consequências da queda de Santa Cruz
A pressão que os Xerifes Sádidas faziam sobre as Praças do Sul, Santa Cruz do Cabo Guer, Safim e Azamor, já tinha levado o Rei D. João III a questionar-se e a lançar um amplo debate, em 1534, no seguimento do cerco imposto a Safim pelos Xerifes. Na vária correspondência trocada, o Rei interroga diversas personalidades sobre se essas praças deveriam ser evacuadas e abandonadas, ou se deveriam ser transformadas em fortalezas roqueiras. O debate inicia-se com uma carta enviada por D. João III formulando a seguinte pergunta: “vos rogo que com brevidade me respondeis, não deixando porem de o cuidar inteiramente, porque convém que muito cedo me determine no que houver de fazer, e a informação vos envio nesse papel de fora; e o sobre que quero que me dês vosso conselho é se devo deixar de todo, ou fazer em cada um deles fortaleza, ou em algum deles somente”. (LES SOURCES… 1946, Tomo II, parte II: 637-639)
Cristóvão de Távora responde que “o que me parece, Senhor, é que quem tem tão bom e santo propósito, como é conquistar e ganhar cidades aos Mouros, não devia soltar as que tem, por lhe não dobrar esforço; e quanto a ficarem fortalezas roqueiras, deve V. A. olhar o grande gasto e despesas que se nelas hão de fazer”. (LES SOURCES… 1946, Tomo II, parte II: 650)
O Infante D. Fernando defende que não se devem abandonar as praças de Safim e Azamor, mas, decidindo o Rei abandonar, então que se abandonasse Azamor, “pelos perigos da barra em todo o tempo”. (LES SOURCES… 1946, Tomo II, parte II: 653)
O Bispo de Lamego é da opinião de se abandonar Santa Cruz, Safim e Azamor, e fortificar Ceuta e Mazagão. (LES SOURCES… 1946, Tomo II, parte II: 656-661)
O Grão-Mestre da Ordem de Santiago defende o abandono das três praças e o reforço das defesas de Ceuta. (LES SOURCES… 1946, Tomo II, parte II: 662-664)
João de Melo Barreto defende a conservação de Safim e Azamor e o seu reforço militar. “Safim e Azamor, sem embargo das grandes necessidades que na folha vi, não se devem deixar de nenhuma maneira”. (LES SOURCES… 1946, Tomo II, parte II: 666)
O Marquês de Vila Real defende que não se devem deixar Safim e Azamor, que poderiam ser arrasadas e no seu lugar construir fortalezas. “E quanto a se fazerem roqueiros, posto que o fortalezar deles custe muito e a obrigação de os socorrer, quando os cercarem, fique inteira, todavia, se assim custassem menos a suster e de maneira fossem aportilhados que os Mouros os não pudessem povoar nem senhorear os portos deles, e que a artilharia das forças que neles ficassem fossem bastantes para defender tudo isto, logo desta maneira me pareceria que poderia ser vosso serviço, porque isto não se chamaria deixar, senão atalhar, o que os reis e príncipes no que se ganha aos inimigos muitas vezes costumam fazer.” (LES SOURCES… 1946, Tomo II, parte II: 673)

O Castelo do Mar de Safim
Francisco Lobo tem uma posição dúbia. Defende que as praças do Sul não vão suster o Xerife, podendo ser evacuadas, mas a sua evacuação aumentará a pressão sobre as praças do Norte. (LES SOURCES… 1946, Tomo II, parte II: 676-679)
Nuno Rodrigues Barreto responde ao Rei que o abandono das praças está fora de questão e que se devia atacar o Reino de Fez. (LES SOURCES… 1946, Tomo II, parte II: 680-683)
D. Rodrigo de Lima tem uma posição semelhante à anterior _ não se deve deixar nenhuma das praças e o objectivo deveria ser o de lançar uma cruzada contra o Reino de Fez. (LES SOURCES… 1946, Tomo II, parte II: 684-687)
Idêntica opinião tem Fernão Vaz de Sampaio. (LES SOURCES… 1946, Tomo II, parte II: 688-689)
O Bispo do Algarve responde que a solução está na conquista de Salé e na fortificação da Mamora, como base para a queda de Fez, lembrando os objectivos definidos pelo pai do Rei, D. Manuel I. (LES SOURCES… 1946, Tomo II, parte II: 692-699)
João Rodrigues de Sá de Meneses defende a manutenção das praças tal como estavam à data. (LES SOURCES… 1946, Tomo II, parte II: 702-703)
Aires de Sousa responde ao Rei em Janeiro de 1535, dizendo: “Havendo-se de suster, se será assim como ao presente estão ou se será melhor atalharem-se e fazerem-se em fortalezas roqueiras, para que com menos custo e trabalho e mais seguramente se possam defender.” (LES SOURCES… 1948, Tomo III: 4)
D. Fradique Manuel defende que Safim e Azamor devem ser conservadas a todo o preço. (LES SOURCES… 1948, Tomo III: 18-21)
Na generalidade das respostas dadas, três argumentos são apresentados como relevantes _ a questão financeira, a ameaça que constitui o Turco Barbaroxa e a importância que as praças têm para o grande objectivo da permanência na Duquela e para a conquista dos Reinos de Fez e Marraquexe. Mas a falta de consenso patente nas respostas inviabiliza uma decisão subsequente por parte do Rei.
A queda de Santa Cruz do Cabo Guer a 12 de Março de 1541 precipitou a tomada de uma decisão definitiva, reformulando-se toda a estratégia de ocupação no Sul de Marrocos. D. João III decide evacuar Safim e Azamor em Outubro de 1541 e construir uma superfortaleza em Mazagão, segundo os modernos princípios da arquitectura militar do Renascimento, que concentrasse as defesas portuguesas na região Sul de Marrocos.

A queda de Santa Cruz do Cabo de Guer. Capp de Gell Shariffi in Barbaria de Hans Staden, publicada na obra Duas Viagens ao Brasil, [1557] (2007), L&PM Editores, Porto Alegre
A Cidadela de Mazagão, um projecto de equipa
Para tal, nomeia o seu irmão D. Luís responsável pela empresa, que convoca os técnicos mais prestigiados da época, formando uma equipa liderada por Miguel de Arruda, e tendo como projectista principal Benedetto da Ravenna, arquitecto italiano ao serviço de Carlos V de Espanha, contando com a colaboração de Francisco de Holanda, recém chegado de Itália, e de Diogo de Torralva, cunhado de Arruda (ao nível dos estudos), e João de Castilho, um sexagenário da Cantábria com larga experiência, e João Ribeiro (estes como executantes da obra).
Francisco de Holanda foi um homem completo _ arquitecto, escultor, pintor, desenhador, iluminador, ensaísta e humanista. Com 20 anos de idade foi enviado para Itália pelo Rei D. João III, onde conheceu Miguel Ângelo e António da Sangallo il Giovane. A sua missão era a de desenhar fortalezas, missão que Cobos-Guerra apelida de espia, tendo mesmo sido preso, como o próprio contou: “Sendo eu de idade de 20 anos, me mandou El-Rei vosso avô a ver Itália e trazer-lhe muitos desenhos de coisa notáveis dela, como fiz em um livro que agora tem o filho do Infante, senhor Dom António. Fui preso pelo capitão por suspeitar que a desenhava (a fortaleza de Pésaro), e posto em perigo de morte por servir el rei”. (COBOS GUERRA, 2018: 22-23)
Quando regressou a Portugal, Francisco de Holanda realizou os primeiros esboços e reivindicaria a autoria do projecto, numa carta que escreveu a D. João III, na qual afirma que “a Fortaleza de Mazagão que foi feita por meu desenho e modelo, sendo a primeira força bem fortalecida que se fez em África, a qual desenhei vindo de Itália e de França”. (CÓDICE DA …, fl. 43-44)
O desenho de Holanda é em tudo semelhante à configuração actual da Cidadela, mas previa um quadrado com 200 metros de lado. Segundo Jorge Segurado, o projecto de Holanda é o que figura na Planta da Praça de Mazagão em 1727 de João Thomás Correa (CORREA 1699-1743: fl. 38). Segurado apresenta essa planta com a menção “planta esquemática desenhada por Affonso de Dornelas, segundo um códice do século dezassete de João Tomar Correia. (SEGURADO 1961: 225)

Planta da Praça de Mazagão em 1727 de João Thomás Correa, in Livro de várias plantas deste Reino e de Castela, 1699-1743, Biblioteca Nacional de Portugal
Holanda também se queixa ao Rei que o seu conselho de se usar tijolo para construir a fortaleza não foi seguido, acrescentando que o tijolo tinha que ser pequeno e assente com pouca cal na argamassa. “Em Itália, naquele tempo, empregava-se nas obras fortes, o tijolo que, pela sua pouca rigidez e fraqueza de argamassa, no seu assentamento, melhor resistia aos tiros das bombardas, pois recebia as balas brandamente e amortecia o choque, evitando estilhaços”. (SEGURADO 1961: 180)
Em Maio, Miguel de Arruda encontrou-se com Benedetto da Ravena no Porto de Santa Maria, junto a Cádis, seguindo com ele para Marrocos, numa missão de inspecção a Ceuta, Tânger, Mazagão, Safim e Azamor.
A principal conclusão da inspecção foi abandonar todas as praças, excepto Ceuta e Tânger, e substituir o velho Castelo de Mazagão por uma fortaleza abaluartada “tão boa como as melhores de Itália”. (MOREIRA 2001: 43)
No mês seguinte, Miguel de Arruda parte de novo para Mazagão com Benedetto, levando consigo os desenhos de Holanda, já aprovados por Torralva e por D. Luís. Em Mazagão encontraram-se com Diogo de Torrralva e João de Castilho. A proposta de implantação de Torralva provocou um aceso debate com Castilho, que discordou da exposição da fortaleza à forte ondulação que no outono e inverno se faz sentir no local, mas a sua opinião não prevaleceu, por não contar com o acordo dos restantes, nem cumprir as próprias indicações régias.
Benedetto tinha aumentado o esquema base proposto por Holanda num terço em direcção ao mar, seguindo a indicação que o Rei D. João III tinha dado a Miguel de Arruda, escrevendo-lhe que “quanto esta força mais metida na água fosse, tanto mais forte e defensável será”. (VÁRIAS CARTAS…fls. 458-459)
Rafael Moreira refere este episódio, que atribui a Francisco de Holanda a autoria dos desenhos iniciais, da seguinte forma.
“Uma carta aqui publicada contendo as instruções a Miguel de Arruda antes da segunda ida de mestre Beneditto (VÁRIAS CARTAS…fl. 75 v.) – mas que, por aquele ter sido incumbido à última hora de ir buscar o italiano, que se demorava nos seus afazeres em Espanha, deve ter sido levada junto com os debuxos já aprovados na corte pelo seu cunhado Diogo de Torralva, ido a Mazagão no início de Maio com a missão de escolher o melhor sítio (alvo das críticas de Castilho?) -, tem o interesse de nos revelar que o pensamento prevalecente em Lisboa era já de excepcional alcance: previa uma “força” de 50 a 100 braças (=2,2m) de lados ou 200 a 400 de esquadra (perímetro), ou seja um quadrado com quase um quilómetro, com baluartes nos ângulos e a meio se fosse necesário duplicá-lo. O rei já em Abril de 1541 encarava, pois, com realismo (sob a influência de Francisco de Holanda e D. Luís?) a possibilidade de ter-se de erguer algo de enorme – algo como um quadrado de quase 200m de lado! – no local escolhido. A chegada do engenheiro no mês seguinte fez aumentar em 25% a dimensão desses primeiros esboços e modificar as ideias sobre o plano perfeito”. (MOREIRA 2001: 052-053)

Planta da Cidadela de Mazagão de 1611 in Descrição e plantas da costa, dos castelos e fortalezas, desde o reino do Algarve até Cascais, da ilha Terceira, da praça de Mazagão, da ilha de Santa Helena, da fortaleza da Ponta do Palmar na entrada do rio de Goa, da cidade de Argel e de Larache, Casa de Cadaval, n.o 29, PT/TT/CCDV/29, Arquivo Nacional da Torre do Tombo
A superfortaleza do Renascimento
Os desenhos do projecto perderam-se e a planta mais antiga que conhecemos data de 1611, desenhada por Alexandre Massai (o seu traço é inconfundível), pertencente ao Códice Cadaval, Arquivo Nacional da Torre do Tombo (incluída na Descrição e plantas da costa, dos castelos e fortalezas, desde o reino do Algarve até Cascais, da ilha Terceira, da praça de Mazagão, da ilha de Santa Helena, da fortaleza da Ponta do Palmar na entrada do rio de Goa, da cidade de Argel e de Larache), representando apenas a fortificação em si. É uma planta extremamente bem desenhada, que nos dá uma imagem fiel da fortificação, e foi realizada para dar a conhecer ao Rei os trabalhos de limpeza do fosso que à data se encontravam em curso.
O projecto final, cujos desenhos se perderam, estabeleceu as linhas gerais a que obedecia a Cidadela:
Rectângulo com área de cerca de 5,5 hectares de área (275 metros por 200 metros), com os lados quebrados em forma de estrela de quatro pontas, para aumentar os ângulos de tiro, quatro baluartes nos cantos _ Santo António (de São Jorge ou de Dom Diogo), Espírito Santo (do Combate ou do Serrão), São Sebastião (do Norte) e Anjo (de Santiago), mais um baluarte de protecção à port ada Vila, o Baluarte do Governador _ encimados por casamatas, muralha de 12 metros de espessura, sobre a qual se implanta o caminho de ronda, um fosso dos lados Sul, Oeste e Norte, conjugado com diques e buxas (dispositivos para assegurar a renovação da água na maré-cheia, mas evitavam que ficasse seco na maré-vazia). Na frente de mar, a muralha apresenta uma descontinuidade para formar um pequeno porto ou calheta, protegido por um molhe. Uma porta principal no centro do pano Oeste, a Porta da Vila, acessível por ponte levadiça, duas portas secundárias, a Porta da Ribeira, na Caleta, e a Porta da Traição junto ao Baluarte de Santo António, e uma pequena porta de apoio à obra, a Porta dos Bois.

Esquema de tiro das canhoneiras de Mazagão (tiro frontal para terra, tiro frontal para o mar e tiro rasante) com um alcance médio de 600 metros

Esquema de tiro combinado a partir de três baluartes, varrendo o terreno envolvente com tiro frontal e tiro rasante, e anulando possíveis ângulos mortos (exemplo da Muralha de Lagos)
Os baluartes pentagonais são os elementos base, concebidos uns em função dos outros, que se conjugam entre si para cobrir todos os ângulos de tiro, como se de peças de uma máquina se tratassem. A forma pentagonal ou em cunha trazia inúmeras vantagens, pois reduzia a superfície exposta ao fogo inimigo, facilitando os ressaltos, ao mesmo tempo que permitia cobrir os terrenos exteriores de forma mais eficaz, já que se adaptavam às trajectórias dos ângulos de tiro das canhoneiras. Nas faces laterais surgem os orelhões, que protegem as canhoneiras para o tiro rasante, fundamental para resolver os problemas do tiro de proximidade e dos ângulos mortos.
A Cidadela de Mazagão não é uma evolução do Castelo Real de São Jorge, mas uma estrutura construída de raiz, que integra o Castelo Real como seu edifício central, inteiramente remodelado.
O sistema defensivo da Cidadela extravasava o limite imposto pela muralha, sendo complementado com elementos exteriores ao fosso _ os terraplenos que formavam um revelim frente à Porta da Vila, protegido por paliçadas ou tranqueiras, e a esplanada, protegendo a “estrada coberta”, que envolvia todo o fosso.

Mazagão, da formação da Vila à construção da Cidadela
Os trabalhos iniciaram-se em Julho de 1541, quando João de Castilho regressa com um exército de 1.500 pedreiros recrutados em Évora, Tomar e Torres Novas, e no mês de Agosto desse ano a Cidadela é inaugurada, apenas com a Frente de Terra construída. No ano seguinte, a Frente de Mar é terminada. O trabalho de João de Castilho, que disse a D. João III que “nela (Cidadela de Mazagão) amanheço e nela anoiteço”, e que João Ribeiro afirmou “ser homem capaz de sozinho construir o mundo”, foi incansável e inestimável. (MOREIRA 2001: 48-49)
João de Castilho, já sexagenário à data da construção, originário da Cantábria, foi formado nos estaleiros das catedrais de Burgos e de Sevilha, e participou na construção inúmeros edifícios de grande importância do Manuelino e do Renascimento, como o Mosteiro dos Jerónimos, o Convento de Cristo, o Mosteiro de Alcobaça, ou o Mosteiro da Batalha.
Mazagão foi construída com pedra retirada de uma pedreira situada a Noroeste, cuja extracção e transporte implicaram uma forte vigilância militar, que aliás acompanhou toda a execução dos trabalhos, incluindo a permanência de uma armada para defesa do porto.
Muitas das decisões que definiram a Cidadela foram tomadas em obra, como foi o caso da construção da Couraça junto à Calheta, conforme carta de Luís de Loureiro ao Rei em Dezembro de 1542:
“Senhor, esta calheta me parece que não aproveita, e que foi gasto perdido, porque de praia mar e de meia água cheia, avante que a água dá no baluarte, torna tão rija que não pode nenhum batel nela entrar, por lançado que o mar ande. Diziam oficiais e outras pessoas que seria bom fazer uma couraça da banda do Norte, donde vem ali o mar, que de baixa mar entrasse no mar, e que tolheria esta água vir assim rija”. (LES SOURCES…1951, Tomo IV: 116)

Estrutura urbana de Mazagão
A primeira cidade colonial
Mazagão foi a primeira cidade ideal do Renascimento construída fora da Europa, pensada para ser inexpugnável e autossuficiente.
A Cidadela constituía um modelo de estrutura urbana, que compatibilizava um urbanismo doméstico com um urbanismo colonial. Era uma estrutura baseada na disciplina, na ordem e na racionalidade, com fortes ligações a um esquema de base militar, mas com os necessários equipamentos para garantir a vida de uma população civil.
Estruturava-se com base em dois eixos principais, a Rua da Carreira, ligando a Porta da Vila à Porta da Ribeira, espinha dorsal da Cidadela, e a Rua Direita, que lhe era perpendicular, e que constituía o principal arruamento comercial. O Terreiro, onde se realizavam os principais eventos oficiais, situava-se junto à entrada, e nele implantavam-se o Palácio dos Governadores e a Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção. Na área Noroeste, subsiste um traçado de características orgânicas, correspondente ao antigo arrabalde do castelo Real.

Transformação do Castelo Real de S. Jorge de Mazagão em edifício central da Cidadela
O antigo Castelo Real de S. Jorge de Mazagão era o seu centro urbano, ao redor do qual se localizavam os principais edifícios da administração _ o Hospital da Misericórdia, a Vedoria, a Cadeia e vários Celeiros _ e no seu interior implantava-se a Cisterna Manuelina, resultado da escavação da Praça d’Armas do antigo Castelo, inicialmente abastecida através de um cano vindo de um poço situado no exterior. Tinha capacidade para armazenar 2.500 metros cúbicos de água e foi terminada em Novembro de 1547, conforme carta do Governador da Praça Luís de Loureiro ao Rei. (LES SOURCES…1951, Tomo IV: 231)

A Cisterna Manuelina
Mazagão tinha 10 igrejas e ermidas, para além dos necessários equipamentos de logística militar e de bens de consumo _ para além da Matriz de Nossa Senhora da Assunção, referimos São Francisco (ou São Sebastião), São José, Nossa Senhora da Nazaré, Nossa Senhora do Pilar, Nossa Senhora da Luz, Nossa Senhora da Piedade, Nossa Senhora da Penha de França, São João e Santa Cruz.
Os edifícios não se podiam elevar acima da altura da muralha, garantindo que do caminho de ronda houvesse sempre uma visão global, e evitando que do exterior se pudesse perceber a estrutura da Cidadela e localização dos principais equipamentos. Por essa razão, a igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção não tinha torre sineira.

A Igreja Matriz de Nossa Senhora da Assunção com a Torre Sineira do início do século XX
A população dividia-se entre fronteiros e moradores. Os primeiros eram militares e funcionários régios, normalmente destacados em comissões de cinco anos. Os moradores eram os residentes permanentes, os chamados Mazaganistas, que ali viviam e permaneciam ao longo de gerações. As relações entre uns e outros nem sempre eram pacíficas, e as autoridades promoviam eventos que tinham por objectivo fortalecer os laços comunitários.
A maior parte das celebrações eram religiosas, fossem procissões ou celebrações de dias santos, e chegavam a durar 15 dias. Especialmente importantes eram as que celebravam o resgate de cativos, que desfilavam pela Cidadela com as suas correntes e grilhetas, numa encenação que incluía também a exibição de instrumentos de tortura.
Muitas das festas estavam associadas a jogos. Alguns eram disputas de carácter guerreiro, como as carreiras, torneios ou o jogo das argolinhas, que era realizado na Rua da Carreira, em que os cavaleiros tinham que enfiar as suas lanças em argolas presas em cordas. Outro jogo muito popular era denominado cavalhadas, que era uma espécie de guerra de bolas perfumadas, travada com bolas ocas de barro cozido ao sol, cheias de flores e fitas pintadas, chamadas alcanzias. O termo alcanzia tem origem no árabe al-kanzía, que significa tesouro.
Aos fronteiros e residentes juntavam-se os degredados, que em Mazagão cumpriam as suas penas com tempo reduzido, normalmente prestando serviço no exterior da praça, e as comunidades não portuguesas, fossem árabes, berberes, judeus ou comerciantes de várias nacionalidades, sobretudo italianos.
Mazagão teria entre 2.000 e 3.000 habitantes, segundo uma previsão de 1541; 700 fogos em 1615, de acordo com o Governador D. Jorge de Mascarenhas; 500 fogos em 1625, segundo o Governador D. Gonçalo Coutinho; nos registos de meados do século XVIII, a população era de 2092 pessoas, distribuídas por 425 famílias.
Duas plantas fornecem-nos elementos preciosos sobre a Vila e utilização dos seus edifícios:
A Planta da Praça de Mazagão do capitão engenheiro Simão dos Santos, desenhada por Guilherme Joaquim Pays, de 1720-1760, dos arquivos da Direção Geral do Território.
A Planta de Mazagão de 1757, de J. Bélicard, da Bibliothèque Nationale de France, autoria e um espião francês infiltrado na guarnição da Praça.

Planta da praça de Mazagam [Material cartográfico] / feita pello cappitão engenheiro Simão dos Santos, e desenhada por Guilherme Joaquim Pays, de 1720-1760, Direção Geral do Território

Planta de Mazagão de 1757, de J. Bélicard, Bibliothèque Nationale de France
O campo exterior
Os habitantes de Mazagão não podiam viver totalmente dissociados do território envolvente, pelo menos daquele que se encontrava mais próximo, já que precisavam de sair dele todos os dias para efectuar tarefas fundamentais à sua subsistência. A recolha de lenha era uma delas, o desenvolvimento de uma agricultura de carácter precário e de produção limitada era outra, a garantia de pasto para as poucas cabeças de gado que detinham outra ainda. Sem essas actividades, a vida nas praças seria bem mais dura, não só porque permitiam que a dieta dos seus habitantes não se limitasse ao biscoito e à carne seca, mas fosse também composta por alguns frescos, para além do próprio aspecto psicológico que a saída diária fora de portas tinha, atenuando a sensação de encarceramento que a vida nas praças originava.
O Campo Exterior dividia-se em três áreas de caracter distinto _ o Campo Exterior Consolidado, a Terra das Atalaias Curtas (ou Terra dos Fachos) e a Terra das Atalaias Longas.

O Campo Exterior Consolidado
O Campo Exterior Consolidado, com área de 38 hectares e um perímetro de 2.250 metros, prolongava-se para o interior do território cerca de 600 metros. Era encerrado e estruturado por valos, que formavam ruas barricadas em pontos estratégicos por tranqueiras. As entradas no campo dispunham de revelins em terra. O campo organizava-se num esquema de talhões bem delimitados e de traçado regular, e era vigiado continuamente, inclusivamente durante a noite, fazendo-se saídas nocturnas da Cidadela para defender as colheitas aí plantadas, chegando alguns moradores a dormir fora de portas para esse fim.
A estruturação do campo exterior iniciou-se durante a própria construção da Cidadela, protegendo o trabalho de extracção e transporte de pedra desde a pedreira até ao estaleiro.
Uma carta de Lopo de Pina ao Rei D. João III refere que “Luis de Loureiro, capitão, me manda que pague certos valos que manda fazer de fora desta vila para segurança do campo dela”. (LES SOURCES…1951, Tomo IV: 15)
O excesso de ocupação do campo exterior com estruturas para a delimitação das hortas, chegou a tal ponto, que o Rei ordenou em 1621 o derrube de muitas delas, já que perturbavam a própria defesa da praça:
“Sou informado que, de alguns anos a esta parte, junto aos muros da Vila de Mazagão, e no contorno dela, assim dentro dos revelins, como fora deles, se fizeram e plantaram muitas quintas e hortas, cercadas de valados e paredes altas e taipa e de pedra e barro, e pedra e cal; dentro das quais quintas e hortas, os mouros, quando correm àquela fortaleza, se recolhem e amparam, ficando seguros, para se avizinharem mais ao muro. Mandava o Rei, pelos seus oficiais, que se derrubassem todas as hortas e quintas, para que se deixassem os revelins cumprir a sua missão de defesa.” (FARINHA, 1970: 50-51)

A Terra das Atalaias Curtas (Terra dos Fachos)

Perspectiva cavaleira de Mazagão, Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenheria Militar- Direcção dos Serviços de Engenharia
A vigilância do Campo Exterior era realizada através de um sistema de vigias, situadas em colinas ou em torres construídas, as atalaias ou fachos.
Este sistema funcionava com procedimentos rotineiros rígidos, que punham em prática um modelo de vigilância e de defesa capaz de assegurar a segurança dos trabalhadores agrícolas e da própria praça, que se desguarnecia momentaneamente durante os períodos em que as portas estavam abertas. Às primeiras horas do dia saíam os escutas, atalhadores ou monteiros, que examinavam cuidadosamente todo o campo, procurando infiltrados que se tivessem escondido durante a noite para emboscar os lavradores. Após a inspecção ao campo feita pelos atalhadores, saíam os atalaias, que ocupavam as suas posições no cimo de determinadas colinas. Com eles iam os costas, que lhes davam protecção, posicionando-se na base das mesmas colinas. Se o campo estivesse seguro, os atalaias informavam o Facho e o facheiro içava uma cesta forrada com pano num mastro situado no cimo da torre. O sinal era recebido na Torre do Rebate do castelo e o governador dava ordem para os trabalhos no campo se iniciarem através de cinco badaladas do sino. Ao mínimo sinal de perigo, o facho era arreado, dando o alerta. Da Torre do rebate partia a ordem de evacuação do campo exterior, comunicada através de tiros de canhão. Toda a gente voltava para o interior da praça o mais depressa possível e a porta era fechada.

Estudo da táctica à Vauban durante o cerco de 1769, Casa de Ínsua
Jean Mocquet, farmacêutico do Rei Henrique IV de França que visitou Mazagão no século XVII, testemunhou este sistema de vigilância:
“Todos os dias de manhã saem de Mazagão cerca de 40 de cavalo que vão descobrir o campo e nele ficam até o meio-dia; e depois desta hora saem outros 40 que só voltam à tardinha. Seis deles, chamados atalaias, tomam lugar em postos afastados e ficam de vigia; e, se eles descobrem qualquer coisa de suspeito, recuam rapidamente e, visto este movimento da vigia da povoação, dá logo duas ou três badaladas, ao mesmo tempo que os outros de cavalo correm na direcção da atalaia em perigo. Para dar sinal à Praça há em todos os lugares, onde as atalaias se postam, um grande pau de madeira de mastro, ao alto do qual içam com uma corda uma espécie de bandeira, que é o aviso para os moradores se armarem.” (MOCQUET 1617: 56)
Os homens que faziam serviço no exterior da praça eram geralmente degredados, condenados que expiavam os seus crimes nos territórios do Além-Mar. O seu ingresso como atalaias ou batedores no campo exterior era normalmente a única forma que tinham de ganhar algum dinheiro, já que era uma actividade muito arriscada e bem paga.
A eficácia do sistema defensivo exterior de Mazagão está patente neste excerto do texto de D. Gonçalo Coutinho:
“O campo é, sem contradição, o mais claro de nossas fronteiras, e tão seguro, depois de descoberto, que não havendo desmandados, que queiram romper as Atalaias, o podem lograr mulheres, e meninos, sem nenhum perigo.” (COUTINHO, 1629: 4)


Planta de Simão Correa Mesquita de 1752 in Relação do Choque que Tiveram os Cavaleiros da Praça de Mazagão com os Mouros de Aducala e Azamor em 7 de Dezembro de 1751, Jozé da Sylva Natividade, Lisboa, 1752
Este sistema era complementado por um outro, ofensivo, preventivo de ataques vindos do exterior, baseado na acção dos almogávares, força de cavalaria de elite, chamados Estuques, que não só protegia a área envolvente à praça, como fazia ataques surpresa contra as aldeias vizinhas, procurando afastar os seus habitantes e pilhar os seus bens.
Robert Ricard relaciona directamente o sucesso da ocupação portuguesa das Praças de Marrocos com a gestão do Campo exterior:
Robert Ricard atribui a este sistema o sucesso da longevidade da ocupação portuguesa de Ceuta, Tânger e Mazagão, afirmando:
“Os Portugueses praticavam toda uma técnica que corrigia em parte os inconvenientes da ocupação confinada. Esta técnica consistia de um sistema complexo de vigias, sentinelas e batedores, que permitiam organizar a segurança dos arredores da praça durante parte do dia; esta operação chamava-se segurar o campo e, quando estava realizada, dizia-se que o campo estava seguro. Graças a esta organização, era possível assegurar o abastecimento da cidade, particularmente em água, madeira e forragem, e a liberdade da caça e da pastagem, sem ocupar propriamente o território, e consequentemente sem despender o esforço militar e financeiro que implica uma ocupação propriamente dita.” (RICARD, 1933: 448-449)

Planta de Mazagão de 1802, Desenhada por Ignacio António da Silva, Biblioteca Nacional de Portugal
Existem algumas representações do Campo Exterior da Mazagão (para além da já referida Planta da Praça de Mazagão em 1727 de João Thomás Correa), quase todas relacionadas com o cerco imposto pelo Sultão Sidi Mohamed ben Abdellah, e que levou à queda da Praça:
A Planta de Mazagão de 1802, Desenhada por Ignacio António da Silva, Biblioteca Nacional de Portugal, planta perspectivada desenhada de memória.
Disposição das tropas do Rei Sidi Mohamed no cerco a Mazagão de 1769, Casa de Ínsua, sobre a qual pouco ou nada sabemos.
Configuração do modo como se achava sitiada a Praça de Mazagão pelo Imperador de Marrocos, 1814, Autor desconhecido, Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar.
Planta de Simão Correa Mesquita de 1752 in Relação do Choque que Tiveram os Cavaleiros da Praça de Mazagão com os Mouros de Aducala e Azamor em 7 de Dezembro de 1751, Jozé da Sylva Natividade, Lisboa, 1752. Esta planta, muito deformada, dá-nos informações importantes sobre a Terra das Atalaias Longas, que se estendia até Mazagão-Velho (junto às actuais portagens da auto-estrada).
Para além das plantas, existem também algumas interessantes gravuras:
Estudo da táctica à Vauban durante o cerco de 1769, Casa de Ínsua, sobre a qual pouco ou nada sabemos.
Perspectiva cavaleira de Mazagão, Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenheria Militar- Direcção dos Serviços de Engenharia.
Gravura do Cerco de Mazagão de Peter Haas, incluída na obra Efterretninger om Marokos og Fes de 1779, de Georg Horst, publicada por N. Moller, Copenhaga.

Gravura do Cerco de Mazagão de Peter Haas, incluída na obra Efterretninger om Marokos og Fes [1779] de Georg Horst, Conselheiro de Justiça de Sua Majestade Real da Dinamarca e Vice-cônsul dinamarquês em Mogador, publicada por N. Moller, Copenhaga, reeditada na obra Relations sur les Royaumes de Marrakech et Fès, recueilles dans ces pays de 1760 à 1768, (2002) Éditions La Porte, Rabat
Queda ou/e abandono
O ano de 1768 chegou e com ele uma situação explosiva na Praça de Mazagão, com pilhagens no Armazém Real e no Celeiro. O Governador proíbe todas as saídas fora de portas e pairam rumores de um novo cerco. De Lisboa chegam canhões, pólvora e trigo.
No dia 4 de Dezembro, 75.000 soldados e 44.000 sapadores do exército do Sultão Sidi Mohamed ben Abdellah iniciam um cerco, cavando trincheiras ao redor da Cidadela.
“Durante várias semanas, os sapadores cavam trincheiras durante o dia, e os soldados acendem à noite imensas fogueiras, cuja intensidade luminosa rompe a tranquila quietude nocturna da planície dos Doukkalas. Uma nova guerra de nervos instala-se: as tropas mouras querem acima de tudo impressionar os Mazaganistas, suscitar a inquietude, a angústia, o próprio medo.” (VIDAL 2008: 43)
A intensidade dos bombardeamentos é tal que o Governador dá ordem de retirar os pavimentos das ruas para evitar os ressaltos dos projécteis. Para além de trincheiras rodeando a Praça, são instalados vários redutos para morteiros, dos lados Norte e Sul, concentrando-se a infantaria e a cavalaria do lado Poente, nos limites dos valos do Campo Exterior.
O cerco de Sidi Mohamed é uma acção irreversível, no sentido de constituir uma decisão definitiva em relação à expulsão dos portugueses de Mazagão. Para Portugal, a questão e Mazagão era há muito um fardo sem solução, que consumia verbas importantes, que não trazia benefícios evidentes para o país e que inviabilizava um acordo de paz com Marrocos. A decisão de abandono de Mazagão já estava tomada havia algum tempo. A família do Governador e muita fidalguia já tinha partido para Lisboa, mas era necessário manter o segredo para evitar mais problemas com a população. Num documento redigido após a evacuação, a Coroa Portuguesa considerava o presídio não só “muito inútil para a religião, para o comércio e para a navegação, como custava a Portugal uma despesa extraordinária e incrível”. (VIDAL 2008: 45)

Configuração do modo como se achava sitiada a Praça de Mazagão pelo Imperador de Marrocos, 1814, Autor desconhecido, Gabinete de Estudos Arqueológicos de Engenharia Militar
Em Fevereiro de 1769 é comunicada a decisão de abandono da Praça. Os Mazaganistas revoltam-se, recusando-se a aceitar a ordem de evacuação. Os tumultos duram várias horas, mas no final a população resigna-se. É então organizado um plano de evacuação. Primeiro saem mulheres e crianças, depois os homens mais jovens e por fim os inválidos. Dos bens a transportar constam as imagens sagradas, as pratas e ornamentos das igrejas, as roupas e as peças de artilharia de bronze. Tudo o resto devia ser destruído. Após negociações com Sidi Mohamed, é estabelecida uma trégua de três dias para permitir a saída dos habitantes pela Porta da Ribeira, um a um, devido à sua estreiteza. Antes de abandonar a cidade, os Mazaganistas destroem tudo o que podem.
“Possuídos por uma raiva destrutiva, os homens esvaziam as suas casas, partem as portas, danificam as fachadas, empilham os móveis na rua e pegam-lhes fogo. De seguida precipitam-se para a igreja, destroem a cruz, desmontam o altar e atiram as pedras por cima das muralhas. Seguem-se as armas: espingardas e canhões em ferro tombam também para dentro de água. Os sinos são também atirados abaixo das torres e campanários. E para não deixar nada vivo, as patas dos cavalos são partidas ou cortadas.” (VIDAL 2008: 49)
Na sua saída no dia 11 de Março os portugueses não respeitaram os termos do acordo, minando os baluartes do lado de terra, que explodiram à passagem das tropas marroquinas provocando, segundo alguns autores, mais de 8.000 mortos. As destruições são tais, que a vila toma o nome de Al-Mahdouma ou a arruinada, e fica encerrada e abandonada durante quase 50 anos.
Os dois mil habitantes embarcam em 14 navios e permanecem em trânsito em Portugal até 15 de Setembro, data em que partem para o Brasil, onde viriam a fundar Vila Nova de Mazagão, na Amazónia. Com o abandono de Mazagão, Portugal retira-se da última Praça-Forte que ainda possuía na costa de Marrocos.

Evidências do Campo Exterior Consolidado na estrutura urbana de El Jadida
Cicatrizes que o tempo não apagou
Com a saída dos portugueses, iniciou-se um período de cerca de 50 anos em que ficou abandonada, já que a população local se recusou a viver na “cidade dos cristãos”, sendo ocupada de novo nos meados do século XIX por judeus vindos de Azamor. Por esse motivo a cidadela ficou conhecida nesse período como El Mahdouma ou “a destruída”, e hoje é chamada o Mellah de El Jadida, ou Bairro Judeu da cidade. Os autóctones estabeleceram-se assim na área extramuralhas correspondente ao chamado Campo Exterior Consolidado, aproveitando as estruturas criadas pelos portugueses, os materiais aí existentes e o desenho dos caminhos, limites e, presumivelmente, do próprio parcelamento.

Referenciação das evidências na cartografia e gravuras existentes
Constatamos que os elementos construídos precários implantados pelos portugueses perduraram na definição da expansão da cidade de El Jadida operada nos finais do século XIX. Nos desenhos seguintes estabelece-se uma relação entre as evidências do Campo Exterior Consolidado na estrutura urbana de El Jadida, mapeadas na fotografia aérea actual, e a referenciação dessas evidências na cartografia e gravuras antigas existentes.
Como conclusão, podemos afirmar que o campo exterior de Mazagão deixou marcas claras na Cidade de El Jadida, que se constatam pela coincidência entre os principais valos e caminhos com importantes eixos viários, como o Valo Norte com a Avenue Moulay Smail e Rue Haj Ahmed Lahlali, o Valo Sul com a Avenue Hassan II, o Valo Poente com a Avenue Pasteur, o Valo Norte secundário com a Rue de France, o Eixo Estruturador do Campo Exterior Consolidado com a Avenue Zerktouny e o caminho para Azamor com a Avenue Mohamed V. Para além destes elementos, é interessante verificar que o próprio Campo Exterior Consolidado é hoje uma área urbana homogénea, composta pelos bairros Kalaa e Derb El Hajjar, que corresponde à primeira expansão extramuralhas de El Jadida processada durante o século XIX.

Disposição das tropas do Rei Sidi Mohamed no cerco a Mazagão de 1769, Casa de Ínsua
Bibliografia
AMARAL, Augusto Ferreira do (1989). História de Mazagão. Biblioteca da Expansão Portuguesa. Lisboa: Alfa
COBOS GUERRA, Fernando (2018). “Espías, traidores y renegados. Fortificación y espionaje en los siglos XV y XVI”. In El Ingeniero Espía. Conferencias impartidas en el curso El ingeniero espía, celebrado en Segovia del 20 al 22 de octubre de 2017 y organizado conjuntamente por la UNED y la Fundación Juanelo Turriano, pp. 11-38. Segovia: Fundación Juanelo Turriano
CÓDICE DA BIBLIOTECA NACIONAL DA AJUDA, Dois Tratados de Francisco d’Ollanda
CORREA, João Thomás (entre 1699 e 1743). Livro de várias plantas deste Reino e de Castela. Lisboa: Livraria da Caza do espírito Sancto de Lisboa
CORREIA, Jorge (2007). “Mazagão. A última praça Portuguesa no Norte de Africa”. In Revista de História da Arte nº 4. Lisboa: Universidade Nova
CORREIA, Jorge (2008). Implantação da Cidade Portuguesa no Norte de África. Da tomada de Ceuta a meados do século XVI. Porto: FAUP publicações
CORREIA, Jorge (2017). “Determino mandar um destes Italianos […] para melhor poderdes efectuar essa fortificação”. In Estudos Italianos em Portugal, nova série, nº 12, pp. 149-164, Direcção Luísa Violo. Lisboa: Instituto Italiano de Cultura de Lisboa
COUTINHO, D. Gonçalo (1629). Discurso da Jornada de D. Gonçalo Coutinho à Vila de Mazagão, e seu Governo nela. Lisboa: Pedro Craesbeeck Impressor Del Rei
FARINHA, António Dias (1970). História de Mazagão Durante o Período Filipino. Lisboa: Centro de Estudos Históricos Ultramarinos
GÓIS, Damião de (1566-1567). Crónica do Felicíssimo Rei D. Manuel. Lisboa: Casa de Francisco Correa, Impressor do Sereníssimo Cardeal Infante
GOULVEN, Joseph (1917). La Place de Mazagan sous la Domination Portugaise (1502-1769). Paris: Émile Larose, Libraire-Éditeur
LES SOURCES INÉDITES DE L’HISTOIRE DU MAROC (1934). Par Pierre de Cénival. Première série, Dynastie Sa’dienne. Archives et Bibliothèques du Portugal. Tome I. Juillet 1486-Avril 1516. Paris : Paul Geuthner
LES SOURCES INÉDITES DE L’HISTOIRE DU MAROC (1939). Par Pierre de Cénival. Première série, Dynastie Sa’dienne. Archives et Bibliothèques du Portugal. Tome II, Partie I. Mai 1516-Décembre 1526. Paris : Paul Geuthner
LES SOURCES INÉDITES DE L’HISTOIRE DU MAROC (1946). Par Pierre de Cénival, David Lopes et Robert Ricard. Première série, Dynastie Sa’dienne. Archives et Bibliothèques du Portugal. Tome II, Partie II. Janvier 1527-Décembre 1534. Paris : Paul Geuthner
LES SOURCES INÉDITES DE L’HISTOIRE DU MAROC (1948). Par Robert Ricard. Première série, Dynastie Sa’dienne. Archives et Bibliothèques du Portugal. Tome III. Janvier 1535-Décembre 1541. Paris : Paul Geuthner
LES SOURCES INÉDITES DE L’HISTOIRE DU MAROC (1951). Par Robert Ricard. Première série, Dynastie Sa’dienne. Archives et Bibliothèques du Portugal. Tome IV. Janvier 1542-Décembre 1550. Paris : Paul Geuthner
MESQUITA, Simão Correa de (1752). Relação do Choque que Tiveram os Cavaleiros da Praça de Mazagão com os Mouros de Aducala e Azamor em 7 de Dezembro de 1751. Lisboa: José da Sylva da Natividade
MOCQUET, Jean (1617). Voyages en Afrique, Asie, Indes Orientales et occidentales. Paris: J. de Heuqueville
MOREIRA, Rafael (1986). “A Arquitectura Militar”. In SERRÂO, Vítor, coord. História da Arte em Portugal – o Maneirismo, vol. 7. Lisboa: Publicações Alfa
MOREIRA, Rafael (2001). A construção de Mazagão. Cartas inéditas 1541-1542. Lisboa: IPPAR/CPML
MOREIRA, Rafael (2014). “De la Méditerranée à l’Atlantique, Le succès du bastion dans le monde portugais”. In FAUCHERRE, Nicolas; MARTENS, Pieter e PAUCOT, Hugues, dir. La genèse du système bastionné en Europe (1500-1550), pp. 203-218. Marseille: LA3M UMR 7298 / Cercle Historique de l’Arribère – Navarrenx
RICARD, Robert (1933). “A propos de rebato. Note sur la tactique militaire dans les places portugaises du Maroc”. In Bulletin Hispanique, volume 35, nº 4. Bordeaux: Presses Universitaires
RICARD, Robert (1941). “Un opuscule rare sur la place portugaise de Mazagan (avec deux illustrations)”. In Hespéris, Archives Berbères et Bulletin de l’Institut des Hautes-Études Marocaines, Tome XXVIII. Paris: Librairie Larose
RICARD, Robert Ricard (1957). “Etudes sur l’histoire des Portugais au Maroc”, in Annales. Économies, Sociétés, Civilisations. Lapeyre Henri, 12ᵉ année, nº 1, pp. 164-166. Paris : Armand Colin
SEGURADO, Jorge (1961). Francisco D’Ollanda. Lisboa: Edições Excelsior
VÁRIAS CARTAS SOBRE OS LUGARES DE AFRICA. Códice 1758 da Biblioteca Nacional de Lisboa
SOUSA, Frei Luiz (1844). Annaes de El Rei Dom João Terceiro. Lisboa: Sociedade Propagadora dos Conhecimentos Úteis
VIDAL, Laurent (2008). Mazagão, la ville qui traversa l’Atlantique. Du Maroc à l’Amazonie (1769-1783). Barcelona : Champs histoire









































































































































































Pingback: Património Português em Marrocos | Histórias de Portugal em Marrocos
Pingback: Mulei Maluco e o renegado Reduão | Histórias de Portugal em Marrocos
Aqui de Mazagão amazônica, externo meus agradecimentos e felicitações pelo excelente trabalho, que muito nos ensina; parabéns pela primorosa pesquisa e pelo excelente texto. aprendi muito, obrigado.
Caro amigo. Muito obrigado pelo seu comentário. Gostava um dia de poder aprender e escrever sobre Mazagão da Amazónia
Muito obrigado por mais este magnífico trabalho, que muito apreciei.
Eu é que agradeço o seu comentário. Cumprimentos
Muito obrigado por mais este magnífico trabalho, que muito apreciei.